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Crianças com dores de cabeça

Gustavo Rodrigues, pediatra do Hospital Lusíadas Lisboa, explica como pode detetar e tratar as dores de cabeça nas crianças.

Não é fita e não é necessariamente uma doença grave, mas quando a criança se queixa de dores de cabeça - o que não é muito comum - é preciso ter alguma atenção. "A dor de cabeça (ou cefaleia) na criança é pouco frequente e, geralmente, pouco importante.

A sua valorização depende da idade e dos sintomas acompanhantes", diz, por isso, Gustavo Rodrigues, pediatra do Hospital Lusíadas Lisboa. Para saber quando agir e o que fazer quando o seu filho se queixa de dores de cabeça, o pediatra ajuda a sistematizar.

Causas mais frequentes das dores de cabeça 

0 - 3 anos: a dor de cabeça é rara 

Muitas vezes pode ser só manifestação de chamada de atenção pela criança que contacta com adultos com queixas de "dores de cabeça" e, por imitação, também as refere. São "dores" que passam espontaneamente, sem terapêutica, se não forem valorizadas.

No entanto, as dores de cabeça podem ser sintoma de outra doença já que podem acompanhar infeções virais ou bacterianas dos adenoides, as gripes e outras doenças virais que cursam com febre, mas que melhoram quando se baixa a temperatura.

Dores de cabeça em idade escolar 

Em idade escolar é preciso ter mais atenção aos sintomas e à altura em que ocorrem porque podem denunciar outras questões, tais como:

  • Stresse:

Fatores nervosos, de stresse, relacionadas com testes e exames, podem provocar dores de cabeça;

  • Visão:

Se forem mais intensas ao fim do dia estão, por vezes, relacionadas com défices de visão;

  • Sistema respiratório: 

São comuns as dores de cabeça frontais e maxilares sem febre ou com febre baixa em crianças com antecedentes de "roncopatia" (que ressonam) porque têm adenoides grandes ou rinites alérgicas e, nesta idade, sinusite. Nestes casos a dor melhora com analgésicos e anti-inflamatórios.

Sintomas a ter em conta

  • Qualquer que seja a idade da criança

Se ela acorda durante o sono ou ao acordar, agarrada à cabeça a chorar e tem vómito "em jacto"  há que pensar em lesões e, eventualmente, tumores cerebrais;

  • Se a criança se queixa de dor de cabeça

E tem febre, está prostrada e vomita permanentemente, pode ter uma infeção das meninges (meningites) que podem ser virais (benignas) ou bacterianas (geralmente a pneumococo até aos dois anos ou por Meningococo b nos mais novos ou c- pelos 5-9 anos e 15 -19 anos).

Quando deve agir

"Todos nós já tivemos dores de cabeça pouco importantes, basta estarmos constipados. Portanto, habitualmente, se a dor é pouco importante e se desaparece com analgésico, não é necessário recorrer ao conselho médico", adverte o pediatra Gustavo Rodrigues. Se tal não acontecer, pode ser preciso agir. É o caso das seguintes situações:

  • As dores de cabeça frontais ao fim do dia aconselham a uma observação oftalmológica e de um otorrinolaringologista (se a primeira observação for normal);
  • Se as dores de cabeça forem acompanhadas de febre e obstrução nasal, será melhor ser visto por otorrinolaringologista e fazer eventual TAC (tomografia axial computadorizada) dos seios peri-nasais;
  • Se a criança tem dor de cabeça de madrugada ou de manhã, acompanhada de vómito, de forma repetida, será conveniente fazer ressonância magnética ao crânio.

"Em todas as situações de febre alta, prostração e vómitos associados, com ou sem manchas avermelhadas no corpo, deve recorrer ao serviço de urgência de pediatria mais próximo. É uma situação que pode ser grave e em que é necessário fazer punção lombar  para análise do líquido cefalo-raquidiano", aconselha Gustavo Rodrigues.

Enxaquecas infantis

Infelizmente, os pais não deixam de herança aos filhos apenas os olhos ou outros traços fisionómicos. As enxaquecas são, muitas vezes, hereditárias. "As crianças, sobretudo as com história familiar, podem ter enxaquecas. São dores típicas, violentas de um dos lados do crânio (hemicrânia), geralmente acompanhados de vómito e má tolerância à luz (fotofobia)", diz o médico.

As enxaquecas podem iniciar-se logo por volta dos 4-5 anos, mas não é muito comum: "Habitualmente, são mais frequentes depois dos 10-12 anos. A clínica é típica e há, geralmente, uma história semelhante de outros membros da família. (...) Devem ser referenciadas à consulta de Neurologia Infantil", continua Gustavo Rodrigues.

No entanto, é preciso que o diagnóstico seja preciso e adequado a cada caso. "Existem múltiplos estudos sobre as causas e formas de terapêutica da enxaqueca. Estes devem ser ponderados já que a terapêutica tem, por vezes, efeitos nocivos a ponderar", alerta o pediatra.

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