Cancro do ovário: tudo o que precisa de saber
O que é o cancro do ovário?
O termo cancro do ovário aplica-se a um grupo biologicamente e morfologicamente diverso de neoplasias malignas (tumores) que afetam o ovário. “A origem dos tumores do ovário é controversa e ao longo dos anos várias propostas têm surgido.
Atualmente admite-se que estes tumores possam ter origem no revestimento de superfície do ovário e/ou em cistos de inclusão do mesmo revestimento ou no epitélio da porção mais externa das trompas de Falópio”, explica o ginecologista e obstetra Alfredo Gouveia, do Hospital Lusíadas Porto. Todos os anos são diagnosticados em Portugal cerca de 600 novos casos.
Tipos de cancro do ovário
Apesar de o cancro do ovário incluir um grupo de entidades tumorais vastas, estes são os tipos mais frequentes:
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Epiteliais
Têm origem nas células do epitélio (que revestem o ovário) e são os mais comuns (90 em 100 tumores são deste tipo);
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De células germinativas
Começam nas células que vão originar os óvulos;
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De estroma gonadal
Associados aos tecidos de sustentação do ovário.
Fatores de risco
“A epidemiologia do cancro do ovário é multifacetada. Inclui fatores genéticos, reprodutivos e ambientais que exercem uma influência direta ou indireta sobre a carcinogénese no ovário”, explica Alfredo Gouveia. Assim, os principais fatores de risco associados à doença são:
- Hereditariedade;
- Nuliparidade (quem nunca deu à luz)/ infertilidade;
- Terapêutica de substituição hormonal;
- Endometriose;
- Uso de talco;
- Obesidade;
- Raça caucasiana.
Sinais de alerta
“Historicamente o cancro epitelial do ovário foi chamado ‘silent killer’ [assassino silencioso] porque se pensava que os sintomas só ocorriam nos estádios avançados da doença em que a possibilidade de cura é reduzida”, diz Alfredo Gouveia. Sabe-se hoje que a doença se manifesta tipicamente através dos seguintes sintomas:
- Distensão abdominal;
- Náuseas;
- Perda de apetite ou enfartamento devido à presença de líquido (ascite) intra-abdominal em grande quantidade;
- Dispneia (dificuldade respiratória), que também pode estar presente por acumulação de líquido no espaço em volta dos pulmões (derrame pleural).
O cancro epitelial do ovário pode apresentar-se de forma aguda ou subaguda, acrescenta o médico. “As doentes com manifestação aguda têm tipicamente a doença avançada e apresentam derrame pleural ou oclusão intestinal que requer investigação e atendimento urgente. Em mulheres com a doença em estádio precoce ou avançado (forma subaguda) pode existir tumor anexial [junto ao útero], dor pélvica ou abdominal ou sintomas gastrointestinais”, esclarece Alfredo Gouveia.
Diagnóstico
Depois de identificada a massa intra-abdominal, normalmente através de ecografia ou TAC pélvico, o médico recorre à biopsia ou exérese cirúrgica (procedimentos que permitem analisar os tecidos do ovário) para assim fazer o diagnóstico.
Tratamento
“O tratamento padrão atual do cancro do ovário consiste na cirurgia primária de máxima redução tumoral, seguida frequentemente por quimioterapia combinada em tratamento adjuvante”, explica o médico. Nos casos em que, pelas suas características, a doença é considerada inoperável é efetuada quimioterapia prévia (neoadjuvante), seguida de cirurgia de redução tumoral.
Prevenção
Em geral, como não se sabe exatamente quais são os mecanismos que estão na génese da doença, desconhecem-se métodos para a sua prevenção. Ainda assim, “admite-se que contribuem como fatores protetores a toma de contracetivos orais, a laqueação tubária e a multiparidade”, considera o ginecologista.
“Apenas nas formas hereditárias, associadas a mutações genéticas, cerca de 10 a 15% dos casos, a realização de cirurgia profilática na forma de remoção das trompas e dos ovários na idade oportuna contribui para a sua prevenção”, explica o médico.