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Vírus Zika: o que deve saber

O vírus Zika pode assemelhar-se a uma gripe e tem um período de incubação de 10 dias. É tratável mas pode provocar malformações em bebés cujas mães tenham sido infetadas. Em Portugal já se conhecem quatro casos de pessoas vindas do Brasil. Se viajar, saiba que precauções deve tomar.

Uma vez mais, um pequeno mosquito coloca inúmeros países em alerta. Maria Antonieta Dias, especialista em Medicina Geral e Familiar e responsável pela Consulta do Viajante do Hospital Lusíadas Porto, ajuda a esclarecer as dúvidas sobre o que é o vírus Zika, como se propaga, os tratamentos que existem e como pode proteger-se do contágio.

O que é o vírus Zika?

É um vírus cuja classificação científica pertence ao Grupo IV, Família Flaviviridae, (tal como o vírus do dengue, da encefalite japonesa, da febre amarela ou encefalite do Nilo), Género Flavivirus, Espécie Zika vírus. Este vírus provoca, no homem, a doença designada zica ou febre zica, sendo o veículo de transmissão a picada do mosquito Aedes Aegypti.

Como se transmite?

Estes vírus predominam na África e na Ásia e a transmissão da doença ocorre através da picada do mosquito, que geralmente pica no final da tarde e à noite. Os hospedeiros são os macacos e os humanos, sendo o período de incubação do vírus dez dias. Importa ainda referir que, se o mosquito não for portador do vírus Zika, mas se picar um paciente doente, fica contaminado e passará a transmitir a doença às pessoas não doentes através da picada.

Quais são os sintomas mais comuns?

Os sintomas da doença são semelhantes aos do dengue, mas menos graves, e desaparecem ao fim de quatro a sete dias. Porém, este facto não exclui a necessidade de recurso ao médico. A doença caracteriza-se por:

  • Exantema maculopapular (manchas avermelhadas que se iniciam na face e que podem vir a espalhar-se pelo corpo);
  • Poliartralgias (dor nas articulações);
  • Febre baixa (37,8 °C e 38,5 °C);
  • Cefaleias (dores de cabeça) de intensidade moderada (localizadas atrás dos olhos);
  • Mal-estar geral;
  • Conjuntivite (inflamação do olho, cor vermelha, sensação de picada, lacrimejar, edema palpebral e presença de exsudado amarelo);
  • Fotofobia (maior sensibilidade à luz do dia);
  • Astenia marcada (falta de energia).

Por vezes, esta doença pode ser confundida com um quadro gripal, pelo que é necessário fazer o diagnóstico diferencial com o dengue e a gripe. Podem ainda surgir outros sintomas, embora menos frequentes (dor abdominal, náuseas, vómitos, obstipação ou diarreia, prurido generalizado e aftas).

O vírus Zika nas grávidas

Se a doença surge numa mulher grávida, o vírus pode ser transmitido ao filho, provocando uma doença grave (microcefalia). O vírus também pode ser transmitido através do leite materno ou por via sexual. A síndrome de Guillain–Barré é outra das complicações possíveis.

Trata-se de uma doença grave que, se não for tratada, pode ser altamente incapacitante (o paciente deixa de andar ou de respirar) ou até fatal.

Tratamento adequado

O tratamento desta doença é muito semelhante ao tratamento do dengue e passa pela implementação de medidas de suporte:

  • Toma de anti-histamínico;
  • Toma de antipirético;
  • Colírio (aplicado nos olhos três a seis vezes por dia);
  • Repouso (sete dias);
  • Alimentação rica em vitaminas e minerais;
  • Ingestão de água em grandes quantidades.

O ácido acetilsalicílico e os seus derivados não devem ser usados pelos riscos de hemorragia.

Diagnóstico

O exame complementar de diagnóstico mais específico é o RT-PCR, que está disponível nos laboratórios, mas nem sempre é possível identificá-lo devido ao facto de o vírus permanecer na corrente sanguínea durante cinco a dez dias.

Prevenção

A prevenção da doença passa pela eliminação do criadouro do mosquito do género Aedes aegypty, que inclui:

  • Remoção adequada dos lixos;
  • Utilização de água potável;
  • Evitar as águas estagnadas;
  • Limpeza dos objetos destinados a alimentação de gatos ou cães;
  • Uso de filtros nos ralos das banheiras e dos quintais;
  • Uso de areia em vasos de plantas;
  • Uso de repelente e vestuário que proteja os membros superiores e inferiores (locais eletivos para a picada do mosquito);
  • Evitar abrir janelas ao amanhecer e ao anoitecer;
  • Promover o uso de anticoncetivos nos períodos de epidemia para evitar que as grávidas se infetem.

Consulta do Viajante

Se uma pessoa suspeitar que está infetada pelo vírus Zika, deve ir imediatamente ao médico, que fará o diagnóstico e instituirá o tratamento caso venha a ser confirmado. A consulta do viajante é aconselhável e recomendável para todas as pessoas que viajam, devendo ser realizada antes e depois da viagem. Esta consulta tem como objetivos instituir medidas antecipatórias, prevenir, diagnosticar precocemente as doenças, instituir tratamento atempado e evitar o aparecimento de complicações.

Indicações da Direção-Geral da Saúde

Em comunicado, a Direção-Geral da Saúde (DGS) indica as medidas a adotar no caso de se deslocar para as áreas afetadas.

  1. Antes do início da viagem procurar aconselhamento em Consulta do Viajante, em especial mulheres grávidas;
  2. No país de destino seguir as recomendações das autoridades locais;
  3. Assegurar a proteção contra a picada de mosquitos:
  • Utilizar vestuário adequado para diminuir a exposição corporal à picada (camisas de manga comprida, calças);
  • Optar preferencialmente por alojamento com ar condicionado;
  • Utilizar redes mosquiteiras;
  • Ter especial atenção aos períodos do dia em que os mosquitos do género Aedes picam mais frequentemente (a meio da manhã e desde o entardecer ao por do sol).

Aplicar repelente de insetos observando as instruções do fabricante, bem como ter em atenção os seguintes fatores:

  • Crianças e mulheres grávidas podem utilizar repelente de insetos apenas mediante aconselhamento de profissional de saúde;
  • O repelente de insetos não é recomendado para recém-nascidos com idade inferior a 3 meses;
  • Se tiver de utilizar protetor solar e repelente, deve-se aplicar primeiro o protetor solar e depois o repelente de insetos.

Por outro lado, os viajantes provenientes de uma área afetada que apresentem, até 12 dias após a data de regresso, os sintomas acima referidos, devem contactar a Saúde 24 (808 24 24 24) e referir a viagem recente. Aconselham-se, ainda, as mulheres grávidas que tenham permanecido em áreas afetadas que, após o regresso, consultem o seu médico assistente – mencionando a viagem.

Cronologia do surto

1947 – O vírus Zika foi isolado inicialmente em macacos, designadamente no macaco – reso (Macaca mulatta), na floresta de Zika, na República do Uganda.

1951 – 1981 - Foram notificados casos de infeção humana no Uganda, Tanzânia, Serra Leoa, Egito, Gabão, Malásia, Índia, Indonésia, Filipinas, Vietname e Tailândia.

1968 - Descobertos os primeiros casos de vírus Zika na Nigéria.

2007 (Abril) – Primeiro surto desta doença descrito em território diferente da África e da Ásia: ilha de Yap, nos Estados Federados da Micronésia.

2015 – No Brasil, os primeiros casos de doença (cerca de 500) foram diagnosticados no primeiro semestre do ano, na cidade de Salvador de Bahia, tendo na altura sido associados à grande entrada de pessoas (turistas) oriundas de vários Países e que visitaram o Brasil em 2014, durante o Campeonato do Mundo.

2016 (jan) – Desde novembro de 2015 até à data, a transmissão local do vírus já foi registada em 14 novos países e territórios. De acordo com informações da DGS, em Portugal foram diagnosticados até à data quatro casos, confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge, de pessoas provenientes do Brasil.

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Revisão Científica

Prof. Dra. Maria Antonieta Dias

Prof. Dra. Maria Antonieta Dias

Hospital Lusíadas Porto
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