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Periodontite: maior risco de doença cardiovascular?

Colaboração
A periodontite é uma doença crónica multifatorial, caracterizada pela inflamação e perda dos tecidos de suporte dos dentes - e pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A doença periodontal afeta os tecidos que rodeiam os dentes e pode ser dividida numa patologia inicial reversível (gengivite), que pode progredir para uma situação de destruição irreversível (periodontite). Neste artigo, a Dra. Ana Rita Gouveia, especialista em Medicina Dentária, explica como esta doença pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular e outras patologias.

Em que consiste a periodontite? 

Esta patologia, caracterizada pela inflamação e perda dos tecidos de suporte dos dentes, resulta do desequilíbrio entre a acumulação de placa bacteriana nas superfícies da cavidade oral e a resposta imunológica do doente, que é modulada por fatores de risco como o tabaco, a diabetes, a genética e o stress.

É uma das doenças inflamatórias mais comuns em adultos, pelo que se torna cada vez mais uma preocupação de saúde pública, sobretudo com o envelhecimento da população mundial.

A ausência de tratamento ou descontinuidade de acompanhamento conduz a um agravamento desta situação, que pode levar à perda de dentes, consequentemente diminuindo a capacidade mastigatória, dificultando o discurso, e diminuindo a autoestima e qualidade de vida. 

Qual a relação entre a periodontite e outro tipo de doenças? 

A periodontite tem uma potencial influência no desenvolvimento e progressão de diversas patologias sistémicas. 

A acumulação de microrganismos na cavidade oral, devido a cuidados orais inadequados e fatores ambientais, leva a um aumento da resposta inflamatória local. Estes microrganismos podem promover o desenvolvimento de outras patologias não orais de forma direta (através da sua migração pela corrente sanguínea) ou indireta (com a estimulação de uma resposta inflamatória sistémica, resultando no aumento dos níveis de diversos mediadores inflamatórios).

Quais as principais doenças associadas à periodontite? 

Existe evidência científica que comprova que a periodontite pode estar associada com doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares, cancro oral e gastrointestinal, infeções do trato respiratório, Alzheimer e consequências adversas na gravidez.

Existem inclusive estudos em fase embrionária para o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico para que, através de biomarcadores presentes na saliva, se consiga diagnosticar algumas doenças sistémicas como cancro, doença inflamatória intestinal, diabetes, doenças neurodegenerativas, entre outras. Tal avanço seria de extrema importância, uma vez que permitiria diagnosticar estas patologias de forma simples, rápida e não invasiva.

Existe algum risco de desenvolvimento de doença cardiovascular em doentes com periodontite?

A relação entre periodontite e doença cardiovascular é relevante para a saúde pública, devido à elevada prevalência de ambas as patologias.
Doentes com periodontite apresentam um aumento dos processos inflamatórios sistémicos, o que pode desempenhar um papel muito importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Foi demonstrado que doentes periodontais têm um maior risco de enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca, aterosclerose, doença arterial periférica e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Sabe-se que, com a progressiva acumulação e maturação da placa bacteriana em doentes periodontais, e com o aumento da inflamação local, estes microrganismos adquirem a capacidade de migrarem através da corrente sanguínea e fixarem-se noutros órgãos. 
Vários estudos demonstraram que a saúde oral de pessoas com antecedentes de enfarte agudo do miocárdio era inferior e que as patologias orais podem ser um indicador de risco para a morte devido a doença cardiovascular.

Em pessoas com patologia cardiovascular ou que sofreram algum tipo de intervenções cirúrgicas, pode inclusive estar indicado fazer profilaxia antibiótica antes de alguns procedimentos dentários, com o objetivo de evitar a endocardite bacteriana. 

A doença cardiovascular e a periodontite apresentam fatores de risco em comum, nomeadamente o tabaco, diabetes, hereditariedade e stress. Assim, em combinação com a dieta, exercício físico e cessação tabágica, o tratamento da patologia periodontal deve ser considerado como parte integrante na abordagem dos indivíduos com doença cardiovascular. Foi demonstrado que o tratamento periodontal tem a capacidade de diminuir a incidência de acidentes cardiovasculares.

Qual o tratamento da periodontite? 

Pessoas que apresentem sinais e sintomas de doença periodontal devem, primeiramente, deslocar-se a uma consulta de diagnóstico para se perceber em que fase da doença se encontram e qual o seu risco de progressão. 

Após esta primeira consulta, em que são também realizados os ensinos para corretos hábitos de higiene oral, é determinado um plano de tratamento que passa inicialmente pelo controlo mecânico e químico da placa bacteriana. 

A situação periodontal é reavaliada normalmente após 6 a 8 semanas, período durante o qual devem ser mantidos os cuidados indicados. Depois desta reavaliação, conforme o seu resultado, poderá ser necessário realizar alguns procedimentos cirúrgicos, proceder novamente a técnicas de descontaminação ou entrar em fase de consultas de manutenção, com intervalos ajustados ao risco de progressão da periodontite.

Como se pode prevenir esta doença? 

A periodontite pode prevenir-se através de medidas de ação local e adotando um estilo de vida saudável e preventivo. É recomendada a cessação tabágica e controlo glicémico adequado. 

Para além disso, são pessoas que apresentam necessidade de consultas de controlo regulares com o médico dentista, em intervalos que muitas vezes são inferiores aos recomendados para a população geral, que são os 6 meses. 

É ainda mais importante que estes doentes dominem as técnicas de higiene dentária, interproximal (entre os dentes) e das mucosas orais por forma a evitar a progressão da doença.

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Revisão Científica

Dra. Ana Rita Gouveia

Dra. Ana Rita Gouveia

Hospital Lusíadas Lisboa
Clínica HeyDoc Amoreiras
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