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Gastrite: sabe reconhecer os sintomas?

Não é grave ter dores de barriga ocasionalmente, mas é preciso estar atento a outros sintomas e procurar o médico se estes persistirem ou se agravarem.

A gastrite, tal como a úlcera, é uma doença péptica (digestiva), sendo que ambas são inflamações do revestimento mucoso do estômago. "O estômago tem funções fundamentais no nosso organismo: servir de reservatório de alimentos e ser uma primeira fase na digestão dos alimentos. É aqui que os alimentos sofrem uma fragmentação em pequenas partículas, para depois serem absorvidos no intestino", explica Ângelo Ferreira, da Unidade de Cirurgia Geral do Hospital Lusíadas Lisboa.

Para que isso aconteça, o estômago produz o ácido clorídrico e pepsina, elementos altamente corrosivos. "Para se defender dessa agressão, o estômago produz uma camada de muco que reveste a camada mais interna do estômago - mucosa. Quando, por qualquer razão, esse muco é destruído, o próprio ácido ou pepsina podem agredir a parede do estômago".  É aqui que se abre caminho para as inflamações do estômago, que podem ser de diferentes intensidades, sendo as úlceras as erosões mais profundas.

Principais sintomas de gastrite

Segundo Ângelo Ferreira, os sintomas são por vezes vagos e pouco intensos:

1. Surge uma dor surda fora das refeições ou que acorda o doente a meio da noite;
2. A dor agrava-se quando comemos;
3. Sensação de fome (dolorosa).

Outros sintomas incluem:

  • Náuseas;
  • Vómitos;
  • Emagrecimento;
  • Distensão abdominal;
  • Perda de sangue nas fezes.

As úlceras podem provocar complicações mais graves, como hemorragias (situação lenta e crónica, ou ativa e intensa, que é resolvida com uma cirurgia de emergência), perfurações (que podem provocar peritonites e requerer uma intervenção cirúrgica de emergência), ou estenoses (na maioria das vezes, também implicam cirurgia).

Causas

A mucosa (camada mais interna da parede gástrica) segrega muco que protege o estômago, de agressões internas e externas. No entanto a produção desse muco pode diminuir, facilitando o desenvolvimento de úlcera ou gastrite. As causas são, na maioria das vezes, exógenas (de origem externa).

Bactéria Helicobacter pylori

A mais frequente causa da gastrite/úlcera é a infeção pela bactéria Helicobacter pylori. "A bactéria pode colonizar as pessoas, mas não trazer qualquer complicação. Portugal tem uma das maiores taxas de incidência da doença, embora não se conheçam bem as razões. Esta é uma infeção muito frequente em países em vias de desenvolvimento, devido a questões de higiene", esclarece Ângelo Ferreira.

A transmissão da bactéria é feita através do consumo de alimentos mal lavados ou através da saliva. "Nas crianças tem, muitas vezes, a ver com a conspurcação de fezes e saliva. Sabemos que nos crianças com menos de oito anos a incidência da bactéria em Portugal é na ordem dos 40%. Chega a atingir os 90% nos adultos. A Helicobacter pylori provoca a destruição da camada de muco e corrói as células, provocando a inflamação", explica. Mas apenas 15% das pessoas infetadas com a bactéria desenvolvem doença e, tal como alerta o especialista: "quando não há sintomas ou doença confirmada, não há qualquer tratamento a fazer".

Medicamentos

A nível geral, tem-se verificado o aumento da toma de anti-inflamatórios não esteroides e, frequentemente, sem prescrição médica. Estes, usados em excesso e sem uma toma profilática de protetores gástricos, podem inflamar o estômago.

Tabagismo

O fumo do tabaco e as bebidas alcoólicas diminuem a produção de muco e estimulam a produção de ácido no estômago – o que cria as condições ideais para surgir uma irritação.

Doenças crónicas

Às pessoas que têm uma doença crónica (diabetes, doença pulmonar, entre outras), "mesmo que não tenham a bactéria, aconselha-se a toma profilática de inibidores da bomba de protões (protetores gástricos), porque podem desenvolver mais facilmente úlceras ou gastrites". O mesmo acontece a quem tem insuficiência renal crónica e que seja submetido semanalmente a hemodiálise. "Podem ter mais facilmente uma anemia. Existe uma má vascularização do estômago, o que pode provocar uma gastrite, embora possam não ter a bactéria presente".

Diagnóstico

O diagnóstico é feito com recurso a diversos exames, como a endoscopia com biópsia (com sedação ou não) ou a radiografia contrastada. Para detectar a Helicobacter pylori  é também possível fazer um teste respiratório (embora este seja mais útil no controlo da erradicação da doença) ou testes sanguíneos.

Tratamento

Para tratar a gastrite, procura-se primeiro erradicar as causas e, depois, induzir a cicatrização e diminuir a produção de ácido através dos inibidores da bomba de protões (IBP), que são, neste momento os mais eficazes).

Para erradicar a Helicobacter pylori é feito um tratamento médico triplo recorrendo aos protetores do estômago (inibidor de produção do ácido) e a dois antibióticos, durante 14 dias. É necessário, posteriormente, confirmar a erradicação, o que pode ser feito através de um teste respiratório ou de uma biópsia endoscópica. A Helicobacter pylori é muitas vezes resistente ao tratamento médico, sendo por isso necessário repetir a terapêutica.

Prevenção

Neste momento, só se consegue tratar a infecção já adquirida. Quando a causa não é a infeção provocada pela bactéria Helicobacter pylori, é possível eliminar algumas das outras causas, seguindo uma alimentação saudável, consumindo bebidas alcoólicas apenas de forma moderada, tomar medicamentos exclusivamente sob prescrição médica e deixando de fumar.

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Revisão Científica

Dr. Ângelo Ferreira

Dr. Ângelo Ferreira

Hospital Lusíadas Lisboa
PT