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5 Hábitos que podem estar a prejudicar a saúde do seu coração

Em Portugal, as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte, representando um sério problema de saúde pública. Embora este cenário possa parecer alarmante, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) revela uma mensagem esperançosa: aproximadamente 80% dos óbitos em pessoas com menos de 70 anos são potencialmente evitáveis através de medidas preventivas adequadas.

É amplamente reconhecido que determinados comportamentos de risco têm um impacto negativo não apenas na saúde cardiovascular, mas no bem-estar geral. Entre os mais conhecidos destacam-se o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, uma dieta desequilibrada (particularmente rica em sódio, açucares e gorduras saturadas) e o sedentarismo. No entanto, além destes fatores óbvios, existem outros hábitos menos evidentes que podem igualmente comprometer a saúde do coração e do sistema circulatório. Neste artigo, exploramos esses riscos menos conhecidos e fornecemos orientações práticas para os evitar, ajudando-o a proteger a saúde do seu coração.

1.    Passar muitas horas por dia sentado

Uma vida sedentária, caracterizada por longos períodos de inatividade física, figura entre os principais inimigos da saúde do coração. Contudo, a prática regular de exercício físico pode não ser suficiente para contrabalançar totalmente os seus efeitos nocivos. Permanecer sentado mais de 10 horas diárias aumenta o risco de doença cardiovascular - mesmo quando cumpridos os 150 minutos semanais recomendados de atividade física.

Se a sua profissão o mantém sentado durante grande parte do dia, estas estratégias podem ajudar a minimizar os riscos:

Recomendação: 

  • Sempre que possível, opte por ir a pé ou de bicicleta para o trabalho. Se usar transportes públicos, saia numa paragem anterior; se preferir o carro, estacione mais longe para caminhar um pouco mais;
  • Faça várias pausas ao longo do dia para andar pequenas distâncias ou fazer alongamentos;
  • Aproveite a hora de almoço para fazer uma caminhada curta;
  • Durante telefonemas ou reuniões, prefira manter-se em pé; 

Dedique, no mínimo, 2 horas e meia por semana a fazer exercício físico moderado a intenso.

2.    Ter uma rotina de sono irregular

Dormir adequadamente é um dos pilares essenciais para o bom funcionamento do organismo. Apesar de se recomendar um mínimo de sete horas por noite, a qualidade e regularidade do sono são igualmente determinantes para a saúde.
Variações superiores a uma hora nos horários de adormecer e despertar – mesmo cumprindo a duração ideal – estão associadas a um aumento do risco de eventos cardiovasculares tais como o enfarte do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC). A falta de regularidade nos horários de sono pode perturbar o ritmo circadiano, provocando desequilíbrios metabólicos e alterações hormonais. Estas mudanças, por sua vez, podem contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de condições como dislipidemia, hipertensão arterial e diabetes - todos eles fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Recomendação: 

  • Mantenha horários consistentes de deitar e acordar, mesmo aos fins de semana, com variações não superiores a 30 minutos;
  • Procure ajuda especializada se sofrer de insónias ou outros problemas que afetem a qualidade do sono.

3.    Stress crónico

O stress constante no dia a dia pode comprometer a saúde, afetando não só o bem-estar emocional e psicológico, mas também a saúde física.

O stress desencadeia uma resposta inflamatória no organismo e promove a libertação de hormonas (ex. cortisol) associadas ao agravamento de factores que prejudicam a saúde do coração, como o aumento da pressão arterial, alteração do perfil lipídico (colesterol) e do metabolismo glicídico (diabetes). Estes efeitos elevam significativamente o risco de doenças cardiovasculares.

Além disso, o stress psicológico pode agravar patologias já existentes ou pode mesmo desencadear lesão cardíaca aguda – síndrome do coração partido ou síndrome de Takotsubo. Esta condição é temporária e pode surgir após um episódio de stress emocional intenso, como a perda de um ente querido, um acidente ou uma notícia chocante. Apesar de os sintomas serem semelhantes aos de um enfarte do miocárdio — dor no peito, dificuldade em respirar, suores, etc. — nesta síndrome não há obstrução significativa das artérias do coração.

 O mecanismo de lesão parece estar relacionado com a exposição do músculo cardíaco a uma grande quantidade de hormonas de stress. A maioria dos casos ocorre em mulheres, sobretudo após os 50 anos, e tem geralmente um bom prognóstico, com recuperação completa em poucas semanas. Ainda assim, é fundamental procurar assistência médica imediata perante sintomas de dor no peito, uma vez que só exames específicos conseguem distinguir este síndrome de outras situações mais graves.

Recomendação: 

  • Adote estratégias para gerir o stress relacionado com o trabalho;
  • Nos seus tempos livres, faça exercício físico, optando por incluir na sua rotina práticas que ajudem a relaxar, como a meditação ou Ioga.

4.    Não ter uma boa higiene oral

Uma adequada higiene oral é crucial não só para a saúde dentária, mas também para o bem-estar geral, com especial impacto na saúde cardiovascular. A falta de cuidados orais favorece o acúmulo de placa bacteriana, que pode causar inflamações como gengivite ou periodontite. Essas doenças gengivais facilitam a entrada de bactérias na corrente sanguínea, que desencadeiam processos inflamatórios que danificam os vasos sanguíneos, promovem a aterosclerose e aumentam o risco de enfarte, AVC e endocardite infeciosa.

Recomendação:

  • Siga o princípio 2x2x2 para a higiene oral: 2 vezes ao dia, durante dois minutos; evite comer nas 2 horas seguintes à escovagem;
  • Substitua a escova de dentes a cada três meses ou após ter estado doente;
  • Use fio dental ou outros instrumentos interdentários diariamente para uma limpeza completa entre os dentes;
  • Visite o seu médico dentista regularmente para check-ups preventivos, preferencialmente a cada 6 meses.  


5.    Passar muito tempo sozinho

A solidão e o isolamento social emergem como fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, com estudos a demonstrar um aumento da probabilidade de enfarte e AVC. Além disso, estão associados a piores resultados clínicos após estes eventos, incluindo recuperações mais difíceis e uma maior mortalidade a longo prazo.
Embora as causas exatas desta relação ainda não estejam completamente esclarecidas, acredita-se que sejam multifatoriais e estejam relacionadas com fatores comportamentais — como a maior prevalência de hábitos nocivos (tabagismo, alimentação desequilibrada e sedentarismo), níveis elevados de stress e aspetos psicossociais, como a menor adesão a cuidados de saúde preventivos e a tratamentos.

Recomendação:

  • Promova o convívio social: reserve tempo para estar com familiares e amigos e planeie encontros presenciais com frequência semanal ou mensal;
  • Utilize tecnologias como videochamadas para manter contacto diário com outros ou adira a fóruns online de interesses comuns;
  • Inscreva-se em deportos coletivos ou aulas em grupo e explore hobbies sociais e eventos culturais;  
  • Esteja atento a sinais como a necessidade constante de isolamento e alterações significativas de humor- peça ajuda.

A saúde cardiovascular exige uma abordagem preventiva multifacetada. Embora a adoção de hábitos de vida saudáveis seja fundamental para reduzir riscos, a vigilância médica especializada revela-se igualmente crucial - especialmente para indivíduos com histórico familiar ou pessoal de patologias cardíacas. A conjugação entre estilo de vida equilibrado e acompanhamento periódico constitui a estratégia mais eficaz para preservar a saúde do coração e prevenir eventos cardiovasculares. Não subestime os sinais do seu corpo: uma consulta de cardiologia pode ser o primeiro passo para uma vida mais longa e saudável.

 

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Revisão Científica

Dr. Eduardo Infante de Oliveira

Dr. Eduardo Infante de Oliveira

Coordenador da Unidade de Cardiologia

Hospital Lusíadas Lisboa

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