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Doença celíaca: o que é e qual o tratamento?

Colaboração
O Dia Internacional do Celíaco comemora-se, anualmente, a 16 de maio e o seu objetivo é promover a conscientização da população sobre esta temática.

O que é a doença celíaca?

A doença celíaca é uma doença crónica autoimune causada por uma sensibilidade permanente ao glúten em que, por erro do sistema imunitário, se desenvolve uma reação imunológica contra o próprio intestino. Esta reação leva à inflamação do intestino delgado e consequente diminuição da capacidade de absorver os nutrientes.  
De acordo com o estudo mais recente realizado a nível nacional, estima-se que 1% da população portuguesa seja celíaca, ou seja, 1 em cada 162. Contudo, apenas existem cerca de 15.000 celíacos identificados, o que indica que a doença celíaca é amplamente subdiagnosticada. 

O que é o glúten?

O glúten é uma proteína de origem vegetal presente nos cereais trigo, centeio e cevada. É muito utilizado na indústria da panificação pois retém o ar proveniente da fermentação, promove uma maior elasticidade e extensibilidade às massas e atribui, além de um maior volume, uma consistência «esponjosa» e macia aos pães e bolos. A farinha de trigo, frequentemente utilizada no fabrico de pão, apresenta um elevado teor de glúten quando comparada com outras farinhas. Note, por exemplo, que o pão de milho é mais compacto e menos macio do que o de trigo.

Como se manifesta a doença celíaca?

A doença celíaca pode manifestar-se de formas distintas, dependendo, entre outros fatores, da idade, da extensão da lesão intestinal, da sensibilidade ao glúten e da quantidade ingerida. Encontram-se descritas inúmeras manifestações, desde cólicas abdominais, diarreia, flatulência, distensão abdominal e até osteoporose e infertilidade.

Quais os critérios de diagnóstico?

Os critérios de diagnóstico devem ser personalizados e adaptados a cada caso, abrangendo a história clínica (sinais e sintomas sugestivos), análises sanguíneas, endoscopia digestiva alta, realização de biópsias e testes genéticos.

Qual o tratamento?

Atualmente, o único tratamento eficaz e seguro para a doença celíaca consiste na prática de uma Dieta Isenta de Glúten (DIG), através da substituição de alimentos com glúten por outros cujas matérias-primas não o contenham.
As evidências atuais sugerem que os doentes celíacos devem ser referenciados a um nutricionista que os instrua para a prática de uma DIG e que se certifique de que para além da isenção de glúten, seja nutricionalmente adequada.

A prática de uma DIG (Dieta Isenta de Glúten) emagrece ou é mais saudável?

Nos últimos anos, o interesse pela DIG aumentou consideravelmente, o que motivou uma crescente adesão a este tipo de dieta, mesmo na ausência de um diagnóstico de doença celíaca e no intuito de emagrecer e/ou pela crença de que seja uma dieta mais saudável. Se esta exclusão se traduzir na exclusão da maioria dos alimentos com hidratos de carbono, naturalmente leva a uma menor ingestão alimentar e, consequentemente, a uma perda ponderal. Outra situação é a substituição dos hidratos de carbono com glúten por alimentos do mesmo grupo, mas sem esta proteína.  Neste caso, o que se verifica em muitos casos é que produtos designados sem glúten acabam por ser mais ricos em gorduras, açúcares do que as versões convencionais, possuindo assim um valor calórico elevado. Além disso, os cereais isentos de glúten são tendencialmente mais pobres em ferro e em vitaminas do complexo B. Deste modo, nestes casos é indispensável o acompanhamento de um profissional da área da nutrição para evitar défices nutricionais. Importa ainda referir que os produtos sem glúten são tendencialmente mais dispendiosos e nem sempre se encontram disponíveis em supermercados. 

Lembre-se!

Atualmente não existe evidência científica que fundamente que um indivíduo saudável tenha alguma vantagem em praticar uma DIG. É imprescindível alertar para a relevância do rastreio de indivíduos que apresentem reação à ingestão de glúten/trigo. Somente após o diagnóstico de doença celíaca ou de outras condições justificativas, como uma alergia ao trigo, é que se deve iniciar uma DIG.
 

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Revisão Científica

Dra. Ana Rita Lemos

Dra. Ana Rita Lemos

Hospital Lusíadas Lisboa
Clínica Lusíadas Almada
PT