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Hepatite: O Que É, Sintomas e os Diferentes Tipos

Colaboração
Comecemos com um número para dar a real dimensão da doença no país: em Portugal, estima-se que haja atualmente cerca de 150 mil pessoas portadoras de algum tipo de hepatite, embora nem todas estejam diagnosticadas. Leia o artigo completo e descubra como esta doença é transmitida, quais os principais sintomas e de que forma pode ser prevenida

O que é a Hepatite?

De uma forma simplista, podemos dizer que se trata da inflamação do fígado, que pode ser causada por múltiplos fatores, incluindo infeção viral. A hepatite ocorre quando este órgão, responsável, entre outras coisas, pela digestão, armazenamento de energia ou remoção de toxinas, fica comprometido e não é capaz de desempenhar as suas funções corretamente. A doença pode desaparecer espontaneamente ou progredir para fibrose, e posteriormente cirrose, ou cancro do fígado. 

Quais os Diferentes Tipos de Hepatite Vírica?

Os diferentes tipos de hepatite distinguem-se através de seis letras do nosso abecedário: A, B, C, D, E e G (não causa patologia), consoante o tipo de vírus que a provoca. Respeitemos a ordem alfabética para, à vez, detalharmos cada um deles.

Hepatite A

  • Provocada pelo vírus VHA;
  • Transmissão: ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes;
  • Prognóstico e evolução: geralmente, é uma doença aguda e autolimitada, podendo ser grave ou até fatal em adultos com mais de 40 ou 50 anos, durante a gravidez, em pessoas com doença hepática pré-existente ou em indivíduos imunodeprimidos;
  • Tratamento: não havendo um medicamento específico, o tratamento passa essencialmente pelo repouso e uma dieta rica em proteínas e baixa em gorduras;
  • Vacina: existe uma vacina recomendada para pessoas que viajam com frequência ou permanecem longos períodos em países onde a doença é endémica ou apresentam algum fator de risco.

Hepatite B

  • Provocada pelo vírus VHB;
  • Transmissão: contacto com sangue ou secreções corporais de uma pessoa infetada, sendo o contágio, geralmente, através de relações sexuais desprotegidas, partilha de seringas e objetos cortantes, ou de mãe para filho durante a gestação ou parto;
  • Prognóstico e evolução: na maioria das vezes, é uma doença aguda. Ainda assim, cerca de 5% dos casos pode evoluir para uma forma crónica, levando ao risco de desenvolvimento de cirrose, insuficiência hepática ou risco aumentado de cancro do fígado;
  • Tratamento: não existe um tratamento específico para a fase aguda, apenas gestão de sintomas;
  • Vacina: existe uma vacina disponível, com uma eficácia de cerca de 95%, sendo a forma mais robusta de prevenção desta doença. É administrada em três doses e está incluída no Programa Nacional de Vacinação.

Hepatite C

  •  Provocada pelo vírus VHC;
  • Transmissão: o contágio é feito maioritariamente por contacto com sangue de uma pessoa infetada, normalmente através de objetos cortantes, como seringas, bastando apenas algumas gotas. A transmissão por via sexual é mais rara;
  • Prognóstico e evolução: este tipo de hepatite evolui com alguma frequência para uma forma crónica. Em Portugal, é a principal causa de cancro do fígado (60% do total dos casos) e uma das mais relevantes causas de cirrose (25% do total dos casos);
  • Tratamento: o tratamento depende da fase de evolução da doença, mas é possível através de medicamentos antivíricos de ação direta, com uma taxa de cura a rondar os 95%;
  • Vacina: atualmente, não existe vacina. 

Hepatite D

  • Provocada pelo vírus VHD. Esta tipologia tem a particularidade de ocorrer apenas em simultâneo com a infeção do vírus da Hepatite B;
  • Transmissão: contacto com sangue ou fluidos corporais de uma pessoa infetada;
  • Prognóstico e evolução: quando existe coinfeção, ou seja, quando a infeção é simultânea e o indivíduo é exposto, ao mesmo tempo, a ambos os vírus, resulta numa hepatite aguda mais grave e que pode levar a uma insuficiência hepática aguda. A recuperação total é mais frequente nestes casos. Por outro lado, se a pessoa já é portadora do vírus da hepatite B e, posteriormente, for infetada pelo VHD, é considerada uma superinfeção. Nestes casos, a gravidade é superior e o risco de desenvolver hepatite crónica aumenta para os 80%. Nessas situações, pode provocar lesões hepáticas graves e contribuir para o desenvolvimento de cirrose;
  • Tratamento: não existe nenhum tratamento específico, apenas gestão de sintomas;
  • Vacina: a melhor forma de prevenção é a vacinação contra a Hepatite B.

Hepatite E

  • Transmissão: à semelhança da Hepatite A, transmite-se pelo consumo de água ou alimentos contaminados;
  • Prognóstico e evolução: é aguda e geralmente não evolui para doença crónica. As grávidas apresentam maior risco de desenvolver doença grave. É mais comum em países em desenvolvimento, com climas quentes e condições de higiene e saneamento básico precárias;
  • Tratamento: não havendo um tratamento específico, passa essencialmente pelo repouso, hidratação e uma dieta rica em proteínas e baixa em gorduras. Em casos graves, pode ser necessário tratamento com comprimidos (ribavirina).
  • Vacina: atualmente, não existe vacina.

Hepatite G

  • Provocada pelo vírus GB (GB-C ou HGV);  
  • Transmissão: não existe à data vasta informação sobre todas as formas de contágio, mas o vírus é transmitido principalmente pelo contacto sanguíneo, semelhante à hepatite C;
  • Prognóstico e evolução: esta forma de hepatite viral foi descoberta mais recentemente. A gravidade da infeção nos humanos é baixa ou nula;
  • Tratamento: não existe nenhum tratamento específico, apenas gestão de sintomas;
  • Vacina: ao momento, não existe vacina.

Principais Causas

  • Transmissão oral-fecal: A hepatite A e E são muito parecidas e revelam comportamentos semelhantes: ingestão de água e alimentos contaminados. Esta forma de transmissão, pelas suas características, torna-a mais comum em crianças e em zonas com menores condições de saneamento.
  • Transmissão por contacto com sangue ou fluidos: A hepatite B, C e D são transmitidas pelo contacto com o sangue de uma pessoa infetada ou a partir de outros fluidos corporais: transfusão de sangue, contacto sexual desprotegido, partilha de seringas ou transmissão da mãe para o filho durante a gravidez ou parto. 

Principais Sintomas da Hepatite

As manifestações desta doença são bastante variáveis, não falássemos de seis tipologias. Em muitos casos, aliás, não se verificam quaisquer sintomas, no entanto, quando estes existem na fase aguda, os mais comuns são:

  • Fadiga;
  • Perda de apetite;
  • Náuseas;
  • Vómitos;
  • Diarreia;
  • Urina escura;
  • Fezes claras;
  • Dores abdominais;
  • Coloração amarela da pele e dos olhos (icterícia).

Prevenção

A prevenção da hepatite viral varia conforme o tipo de vírus, mas algumas recomendações são universais e devem ser adotadas para reduzir o risco de infeção:

  • Antes de viajar para países da África ou da Ásia, poderá fazer uma consulta do viajante para analisar o risco de exposição à hepatite em zonas endémicas. Dependendo do destino, poderá ser aconselhável tomar a vacina contra a hepatite A. Durante a estadia, prefira sempre água engarrafada e alimentos bem cozinhados para evitar a contaminação;
  • Utilize sempre proteção em relações sexuais. A ausência de proteção proporciona a transmissão de diversos tipos de hepatite e outras infeções sexualmente transmissíveis;
  • Não partilhe objetos cortantes, como lâminas ou seringas;
  • Adira ao Programa Nacional de Vacinação, que inclui a vacina contra a hepatite B, essencial para a proteção individual e coletiva.

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Revisão Científica

Dr. Pedro Currais

Dr. Pedro Currais

Coordenador da Unidade de Gastrenterologia

Hospital Lusíadas Lisboa
Clínica Lusíadas Oriente
PT