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Tuberculose: 10 perguntas e respostas

Colaboração
Em Portugal, o número de casos tem vindo a descer, mas a tuberculose continua a ser um problema nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, com mais de 20 casos reportados por cada 100 mil. Trata-se de um flagelo mundial que mata anualmente 1,5 milhões de pessoas.

Aurora Carvalho, pneumologista do Hospital Lusíadas Porto, explica o que é a tuberculose, como se pode prevenir e como se cura.

1 - O que é a tuberculose?

A tuberculose é uma doença infetocontagiosa, curável, causada por uma micobactéria (Mycobacterium tuberculosis), cuja transmissão ocorre por via inalatória.

2 - Como se contrai a doença?

Dada a forma como se transmite, nem todos os doentes com tuberculose envolvem risco de contágio. Mas um doente com tuberculose pulmonar, bacilífero, quando tosse, espirra, fala, canta, elimina bacilos em suspensão que podem ser inalados pelos indivíduos com contacto próximo com o doente.

Se o sistema imunitário dessas pessoas está em condições de responder eficazmente, o bacilo é destruído pelo aparelho respiratório em 70% dos casos. Nos restantes 30%, o bacilo consegue multiplicar-se, entrar na circulação e ficar “adormecido” por períodos mais ou menos longos — infeção latente — e, no final, só 10% destes contactos que ficam infetados irão desenvolver doença ao longo da vida, se não fizerem tratamento preventivo.

3 - Qualquer pessoa corre risco de contágio, mesmo que tenha tomado a vacina BCG em criança?

A vacina BCG é a única vacina disponível para a tuberculose. Protege contra o desenvolvimento de formas graves de tuberculose na infância, desencadeia uma resposta imune, mas pode não ser suficiente para evitar que a pessoa vacinada desenvolva a doença. O risco de desenvolver infeção ou doença depende de vários fatores, nomeadamente da quantidade e virulência dos bacilos inalados (o perigo é maior em ambientes fechados e para fumadores).

Além disso, existem populações de risco: crianças com menos de cinco anos, doentes com infeção VIH, toxicodependentes, alcoólicos, sem abrigo, emigrantes e doentes a fazerem tratamentos imunossupressores e biológicos.

4 - Quais são os sintomas da tuberculose?

Não há sintomas específicos, mas os sinais de alerta mais comuns são uma tosse que se prolonga além de duas semanas e não melhora com a medicação habitual, que pode ser acompanhada de suores durante a noite, emagrecimento, falta de forças, cansaço, febre ao fim do dia e por vezes expetoração com sangue.

5 - Como se faz o diagnóstico?

A forma mais comum de tuberculose é a pulmonar, nestes casos uma radiografia do tórax e a pesquisa de micobactérias na expetoração confirmam o diagnóstico em poucas horas, na maior parte dos casos. Quando a doença ocorre noutros locais (gânglios, rim, intestino, por exemplo) confirmar o diagnóstico é mais difícil e muitas vezes exige uma biópsia.

6 - A tuberculose tem cura?

A doença é curável, embora obrigue a um tratamento prolongado, de um mínimo de seis meses (pode ir até 18 meses). Habitualmente o tratamento começa com quatro fármacos e é importante sublinhar que a medicação tem de ser feita sem falhas para se conseguir a cura e prevenir o aparecimento de doença resistente aos fármacos.

O tratamento dos doentes com tuberculose multirresistente é mais complicado porque implica usar um maior número de fármacos, menos eficazes e com mais efeitos secundários, por um período mais prolongado.

7 - Por que é que os medicamentos têm de ser tomados na presença de um profissional de saúde?

Para melhorar a adesão ao tratamento, prevenir o aparecimento de formas de tuberculose multirresistente e controlar mais facilmente os efeitos secundários da medicação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou essa estratégia de Toma de Observação Direta (TOD), obrigatória para todos os doentes com tuberculose ativa.

8 - A tuberculose é um problema de saúde pública?

Continua a ser um problema de saúde pública a nível mundial, com maior gravidade na África, Ásia, na região do Pacífico, na China e na Índia. Em 2014, foram reportados 9,6 milhões de casos de tuberculose e 1,5 milhões de mortes (400 mil eram doentes infetados com o vírus da SIDA). A maior parte das mortes eram evitáveis.

9 - Qual é a situação em Portugal?

É ainda um dos países do ocidente com taxas de incidência mais elevadas, mas os números têm vindo a diminuir, situando-se a taxa calculada para 2015 nos 18,6 casos por 100 mil habitantes, o que coloca Portugal no grupo de países de baixa prevalência de tuberculose. No entanto, as regiões de grande Porto, Lisboa e Setúbal e Faro ainda têm incidência superior a 20 casos por 100 mil habitantes.

10 - É possível pensar na erradicação da doença?

Para atingir os objetivos de erradicação da doença é essencial que se mantenha um programa de luta contra a tuberculose eficaz, com recursos humanos e materiais adequados. O diagnóstico precoce, o tratamento adequado com fármacos de qualidade, rastreio e tratamento preventivo de contactos e de populações vulneráveis são importantes.

Aspetos como formação e educação com o envolvimento de todos os profissionais de saúde, comunicação social e sociedade civil podem permitir atingir os objetivos da OMS — um mundo sem tuberculose.

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Dra. Aurora Carvalho

Dra. Aurora Carvalho

Hospital Lusíadas Porto

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