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Cancro do pulmão: os diferentes tipos

Em 2014, o cancro do pulmão matou 3.927 pessoas em Portugal. Fumadores, mas não só. Mas como funciona esta doença que não tem sintomas específicos e é hoje o cancro mais letal no país?

O que é?

Qualquer cancro resulta de um crescimento descontrolado de células que sofreram alterações e, por isso, não realizam a sua função e impedem o desempenho adequado de determinado órgão. No caso do cancro do pulmão, são células que podem ter origem no próprio pulmão, ou tratarem-se de células que nasceram noutros órgãos e depois migraram para o pulmão, ou seja, formaram uma metástase.
Saber de que células se tratam é fundamental para determinar o tratamento adequado a cada caso.

Tipos de cancro do pulmão

Os tumores que se iniciam no pulmão dividem-se em dois grupos:

1. CANCRO DO PULMÃO DE NÃO-PEQUENAS CÉLULAS

Corresponde a 85 a 90% dos casos e é o tipo mais comum de cancro do pulmão, com um crescimento e metastização mais lentos. Existem três subtipos de cancro de não-pequenas células, que se distinguem e classificam de acordo com o tipo de células que entraram em crescimento descontrolado.

  • Adenocarcinoma (40%)

É o subtipo mais comum e surge frequentemente em não-fumadores. Afeta ligeiramente mais as mulheres do que os homens e é também o subtipo mais vulgar entre os mais jovens. O tumor começa nas células que revestem os alvéolos pulmonares e produzem o muco e geralmente é mais periférico.

  • Carcinoma de células escamosas ou carcinoma epidermóide (25 a 30%)

O tumor inicia-se nas células que revestem as vias aéreas dos pulmões. Este tipo de cancro afeta sobretudo os fumadores e é geralmente encontrado na região central dos pulmões, perto dos brônquios.

  • Carcinoma de grandes células (10 a 15%)

É um tumor mais agressivo, que pode surgir em qualquer parte do pulmão e tende a crescer e metastizar rapidamente. O tratamento deste tipo de tumor é o mais difícil.

Nota: Existem outros subtipos de cancro do pulmão de não-pequenas células, como o carcinoma sarcomatoide, mas não têm expressividade estatística.

2.CANCRO DO PULMÃO DE PEQUENAS CÉLULAS

Corresponde a 10 a 15% dos cancros do pulmão. Este tipo de tumor raramente afeta não-fumadores. Cresce rapidamente e é mais provável que metastize para outros órgãos do que os tumores de não-pequenas células. 

Fatores de risco

  • Fumar

Os fumadores são, sem dúvida, o principal grupo de risco para o cancro do pulmão. Quantos mais anos uma pessoa fuma, maior o perigo e fumar pouco não diminui o risco. Mas é sabido que há não- fumadores afetados pela doença.

  • História familiar

A história familiar da pessoa – não só de cancro do pulmão como de outras neoplasias – é também importante.

  • Exposição

O tipo de exposições nocivas a que a pessoa está sujeita, a nível profissional ou mesmo pessoal, nomeadamente em termos ambientais (poluição) ou pelo contacto com substâncias pesadas como os metais, quando trabalha em minas, por exemplo, é também um fator de risco.

Sinais de alerta

O cancro do pulmão não tem sintomas específicos. A maior parte dos sintomas podem nem sequer estar relacionados com o problema, resultando de outra doença de base que a pessoa possa te. No entanto, toda e qualquer queixa que seja persistente, que se agrave ao longo do tempo ou que levante a mínima preocupação, deve levar a pessoa a procurar uma avaliação médica.

São sinais de alerta:

  • Tosse constante ao longo do tempo, acompanhada ou não de expetoração;
  • Expetoração duradoura e que vai mudando de características ou que apresenta sangue;
  • Emagrecimento;
  • Perda de massa muscular;
  • Cansaço fácil.

Prevenção

O melhor conselho será, sem dúvida, deixar de fumar. O ideal seria nunca começar a fumar, mas quem já fuma deve deixar o vício o mais rapidamente possível, na medida em que o fumo é um risco cumulativo. Quanto mais anos fumar, mais tempo os pulmões vão estar expostos a substâncias nocivas que acarretam o risco de as células se virem a multiplicar.
Depois existem alguns conselhos gerais que ajudam não só a prevenir o cancro do pulmão, como também qualquer tipo de neoplasia:

  • Seguir uma alimentação adequada

Com uma dieta rica legumes e muita fibra.

  • Praticar exercício físico

O que vai assegurar que, mesmo que venha a desenvolver algum tipo de neoplasia, possa suportar melhor os tratamentos.

  • Consultar o médico com regularidade

Marcar consultas periódicas permite uma identificação precoce do problema e, com isso, assegurar um melhor prognóstico.

Diagnóstico

Como ainda não existe nenhum rastreio aprovado a nível internacional que permita aos médicos fazer um diagnóstico precoce, todas as pessoas que sejam consideradas de risco – neste caso, os fumadores, sobretudo acima dos 55 anos – devem fazer avaliações médicas regulares. Os fumadores, mesmo que não tenham qualquer sintoma, devem ir ao médico, pelo menos, uma vez por ano, para controlar as patologias associadas ao tabaco.

Saiba mais

Paulo Cortes apresenta a Unidade de Oncologia do Hospital Lusíadas Lisboa

 

Tratamento

Não existe um tratamento único para o cancro do pulmão. O plano individual definido pela equipa médica para cada doente de forma a controlar o cancro do pulmão ou reduzir os seus sintomas, melhorando a qualidade de vida do doente, resulta da avaliação de diferentes fatores:

  • Tipo de cancro (de não-pequenas células ou de pequenas células);
  • Tamanho, localização do tumor e extensão da área afetada;
  • Estado de saúde geral da pessoa/resistência aos tratamentos.

Os clínicos podem optar por diferentes tratamentos ou estabelecer uma combinação, que pode incluir:

  • Cirurgia

Dependendo da análise prévia dos fatores anteriormente descritos, a extração do tumor pode implicar a remoção de uma pequena parte do pulmão (ressecção segmentar ou em cunha), a remoção de um lobo inteiro (lobectomia) ou mesmo a extração total de um pulmão (pneumectomia).
É importante lembrar, porém, que nem todos os tumores no pulmão são operáveis, dada a sua localização e/ou extensão, e também que existem doentes que, por motivos médicos, não podem ser submetidos a cirurgia. Nalguns casos, a criocirurgia, com aplicação dirigida de frio intenso para destruição dos tecidos, é uma opção. No caso dos cancros de pequenas células, só uma pequena percentagem de doentes tem indicação para cirurgia.

  • Quimioterapia

A utilização de compostos químicos para matar células tumorais por todo o organismo é um recurso frequente, por vezes utilizado mesmo depois da remoção do tumor. Os fármacos podem ser administrados por meio endovenoso (injetados na veia por meio de um cateter). Este tipo de tratamento pode ser usado com a dupla função de controlar o crescimento do tumor ou aliviar os sintomas.

  • Radioterapia

A utilização de radiações ionizantes permite a destruição das células cancerígenas de uma forma direcionada. A técnica pode ser usada antes da cirurgia para reduzir o tamanho do tumor, ou depois, para “varrer” a área de células cancerígenas que possam ainda existir, sendo também um recurso para alívio de sintomas como a falta de ar. A radiação pode ser aplicada externamente ou a partir de um implante radioativo colocado diretamente sobre a zona afetada pelo tumor. A radioterapia no cérebro é por vezes usada na prevenção da formação de metástases, antes de estas surgirem — radioterapia profilática ao crânio.

  • Terapia fotodinâmica

Consiste na utilização um agente fotossensibilizante, luz e oxigénio molecular para matar seletivamente certos tipos de células. O químico injetado na corrente sanguínea é absorvido pelas células e reage ao contacto com a radiação laser. Pode ser usada no tratamento de tumores de pequena dimensão ou no alívio de sintomas como a falta de ar.

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