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Alzheimer: Guia para o Cuidador

Colaboração
Cuidar de alguém com doença de Alzheimer pode ser uma experiência emocionalmente exigente e cheia de desafios práticos. Desde a aceitação do diagnóstico até aos cuidados nas fases mais avançadas da doença, é fundamental estar preparado para cada momento e conhecer estratégias que facilitem o dia a dia, tanto para a pessoa com doença como para o cuidador.

Receber o diagnóstico

Ser confrontado com o diagnóstico de doença de Alzheimer de um familiar pode ser um momento profundamente marcante e assustador. É natural que surjam dúvidas, medos e incertezas sobre o futuro. Nessa fase inicial, é importante procurar compreender a informação dada pelo médico e, sempre que possível, esclarecer todas as questões no momento da consulta.

Escolha um momento calmo para conversar com outros familiares sobre o que foi explicado, garantindo que todos têm a mesma compreensão.

Peça ao médico que use linguagem simples e clara, evitando termos demasiado técnicos.

Sempre que possível, envolva a pessoa diagnosticada nas decisões.

Trabalhe em conjunto com a equipa médica para definir um plano de acompanhamento, que inclua consultas regulares, estratégias de apoio no dia a dia e, se indicado, suporte psicológico.

Receber o diagnóstico é apenas o primeiro passo. Com informação, apoio e organização, é possível preparar-se para lidar com os desafios que virão, mantendo o foco na qualidade de vida e no bem-estar da pessoa com doença de Alzheimer.

Dificuldades na Comunicação

As pessoas com doença de Alzheimer apresentam, geralmente, dificuldades de comunicação, que tendem a agravar-se à medida que a doença evolui. Para além de deixarem de conseguir expressar-se com clareza, podem também perder a capacidade de compreender a linguagem dos outros. 

Na comunicação com o doente, deve: 

  • Falar devagar e de forma clara, utilizando um tom calmo e tranquilizador;
  • Utilizar frases simples, diretas e afirmativas; 
  • Estar ao nível da pessoa, comunicando frente a frente; 
  • Manter contacto visual; 
  • Encorajar a pessoa a falar, mostrando paciência e oferecendo ajuda caso surja frustração. 

Gestão de Sintomas Cognitivos

Com a progressão da doença, surgem alterações como falhas de memória, desorientação e, por vezes, alucinações. Algumas estratégias para lidar com estes sintomas incluem:

  • Mantenha uma rotina estável e previsível;
  • Tente manter uma atitude positiva e tranquila; 
  • Use calendários, quadros com horários e fotografias ou recados escritos para ajudar na orientação;
  • Não contrarie alucinações: tranquilize e redirecione a atenção.
     

Controlo da Agressividade e Agitação

Fases de agitação ou agressividade são comuns e podem ser causadas por desconforto, medo, dor ou frustração. Para minimizar estes episódios:

  • Identifique e evite gatilhos;
  • Quando o doente mostra sinais de agitação, evite aproximar-se demasiado, de maneira a que não se sinta ameaçado;
  • Evite chamar a atenção e apontar erros ou problemas; 
  • Fale com voz calma, evitando discussões ou confrontos;
  • Crie um ambiente seguro e reconfortante;
  • Se necessário, peça ajuda médica para avaliar o uso de medicação.

Nestas situações, deve tentar manter a calma e gerir a situação com tranquilidade, mas sem comprometer a sua própria segurança. Caso surjam comportamentos inadequados ou desajustados, tente encontrar formas de distração para que a pessoa interrompa esse comportamento.

Atividades Diárias

Com o avanço da doença, atividades básicas como comer, tomar banho ou dormir podem tornar-se difíceis. Algumas sugestões:

Higiene:

  • Ofereça ajuda sem infantilizar;
  • Se necessário, substitua utensílios cortantes, como lâminas, por alternativas elétricas; 
  • Mantenha o ambiente aquecido e os produtos organizados por ordem de uso; 
  • Para facilitar o dia a dia, pode ser benéfico privilegiar roupas mais fáceis de vestir, que promovam a autonomia do doente.
  • Opte, por exemplo, por substituir botões por velcro ou fechos e evite peças apertadas ou justas, dando preferência a vestuário e calçado confortáveis e simples;
  • Especialmente nas fases iniciais da doença, é importante promover a autoestima da pessoa. Pequenos gestos, como pentear o cabelo ou cuidar da aparência, podem fazer toda a diferença.

Alimentação:

  • Escolha refeições simples, com cores e texturas variadas;
  • Não apresse a pessoa e dê-lhe o tempo que for necessário; 
  • Garanta que o doente bebe diariamente um litro e meio de água; 
  • Respeite preferências alimentares e esteja atento a dificuldades em mastigar ou engolir.

Sono:

  • Mantenha horários regulares para dormir e acordar;
  • Evite sestas prolongadas durante o dia e reduza estímulos à noite; 
  • Acomode o quarto de forma a evitar acidentes, caso existam deambulações noturnas.

Adaptação do Ambiente

Preparar a casa é essencial para reduzir o risco de quedas, acidentes ou desorientação:

  • Elimine tapetes soltos e obstáculos no chão;
  • Use iluminação suave e constante, especialmente durante a noite;
  • Identifique portas com etiquetas ou cores distintas;
  • Evite fazer mudanças desnecessárias, como mudar as coisas de lugar; 
  • Se possível, instale mecanismos de segurança nas portas e janelas; 
  • Guarde objetos perigosos (fósforos e utensílios cortantes) e substâncias potencialmente tóxicas (medicamentos e detergentes) fora do alcance.

Fases avançadas: Cuidados paliativos

Nas fases mais avançadas, o foco passa a ser o conforto, dignidade e bem-estar da pessoa com doença de Alzheimer. Nesta altura, poderá ser necessário:

  • Supervisão contínua;
  • Adaptação da alimentação a texturas mais fáceis de engolir;
  • Cuidados de enfermagem para higiene, prevenção de feridas e mobilidade;
  • Apoio emocional à família e preparação para o fim de vida.

Sempre que possível, é recomendável manter a pessoa no seu ambiente familiar, onde se sente mais segura e rodeada de referências conhecidas. O recurso a internamentos deve ser reservado a situações muito específicas e, idealmente, de curta duração, como períodos de instabilidade clínica ou necessidade de cuidados especializados temporários.

Autocuidado do cuidador

Cuidar de alguém com demência é um trabalho contínuo e muitas vezes solitário. Por isso, cuidar de si é tão importante como cuidar do outro:

  • Aceite ajuda de familiares, amigos ou serviços de apoio;
  • Tire momentos de descanso e lazer para si;
  • Procure grupos de apoio ou acompanhamento psicológico;
  • Não hesite em pedir orientação profissional.

É importante lembrar-se que não está sozinho e que com ajuda externa tudo se torna mais fácil.
Precisa de apoio especializado? 


 O Hospital Lusíadas Alfragide  disponibiliza programas de acompanhamento para pessoas com doença de Alzheimer e outras demências. Informe-se e conheça as opções disponíveis.

 

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Scientific Review

Prof. Dra. Luísa Alves

Prof. Dra. Luísa Alves

Hospital Lusíadas Alfragide
PT