4 min

Alzheimer: Guia para o Cuidador

Colaboração
Cuidar de alguém com doença de Alzheimer pode ser uma experiência emocionalmente exigente e cheia de desafios práticos. Desde a aceitação do diagnóstico até aos cuidados nas fases mais avançadas da doença, é fundamental estar preparado para cada momento e conhecer estratégias que facilitem o dia a dia, tanto para a pessoa com doença como para o cuidador.

Receber o diagnóstico

Ser confrontado com o diagnóstico de doença de Alzheimer de um familiar pode ser um momento profundamente marcante e assustador. É natural que surjam dúvidas, medos e incertezas sobre o futuro. Nessa fase inicial, é importante procurar compreender a informação dada pelo médico e, sempre que possível, esclarecer todas as questões no momento da consulta.

Escolha um momento calmo para conversar com outros familiares sobre o que foi explicado, garantindo que todos têm a mesma compreensão.

Peça ao médico que use linguagem simples e clara, evitando termos demasiado técnicos.

Sempre que possível, envolva a pessoa diagnosticada nas decisões.

Trabalhe em conjunto com a equipa médica para definir um plano de acompanhamento, que inclua consultas regulares, estratégias de apoio no dia a dia e, se indicado, suporte psicológico.

Receber o diagnóstico é apenas o primeiro passo. Com informação, apoio e organização, é possível preparar-se para lidar com os desafios que virão, mantendo o foco na qualidade de vida e no bem-estar da pessoa com doença de Alzheimer.

Dificuldades na Comunicação

As pessoas com doença de Alzheimer apresentam, geralmente, dificuldades de comunicação, que tendem a agravar-se à medida que a doença evolui. Para além de deixarem de conseguir expressar-se com clareza, podem também perder a capacidade de compreender a linguagem dos outros. 

Na comunicação com o doente, deve: 

  • Falar devagar e de forma clara, utilizando um tom calmo e tranquilizador;
  • Utilizar frases simples, diretas e afirmativas; 
  • Estar ao nível da pessoa, comunicando frente a frente; 
  • Manter contacto visual; 
  • Encorajar a pessoa a falar, mostrando paciência e oferecendo ajuda caso surja frustração. 

Gestão de Sintomas Cognitivos

Com a progressão da doença, surgem alterações como falhas de memória, desorientação e, por vezes, alucinações. Algumas estratégias para lidar com estes sintomas incluem:

  • Mantenha uma rotina estável e previsível;
  • Tente manter uma atitude positiva e tranquila; 
  • Use calendários, quadros com horários e fotografias ou recados escritos para ajudar na orientação;
  • Não contrarie alucinações: tranquilize e redirecione a atenção.
     

Controlo da Agressividade e Agitação

Fases de agitação ou agressividade são comuns e podem ser causadas por desconforto, medo, dor ou frustração. Para minimizar estes episódios:

  • Identifique e evite gatilhos;
  • Quando o doente mostra sinais de agitação, evite aproximar-se demasiado, de maneira a que não se sinta ameaçado;
  • Evite chamar a atenção e apontar erros ou problemas; 
  • Fale com voz calma, evitando discussões ou confrontos;
  • Crie um ambiente seguro e reconfortante;
  • Se necessário, peça ajuda médica para avaliar o uso de medicação.

Nestas situações, deve tentar manter a calma e gerir a situação com tranquilidade, mas sem comprometer a sua própria segurança. Caso surjam comportamentos inadequados ou desajustados, tente encontrar formas de distração para que a pessoa interrompa esse comportamento.

Atividades Diárias

Com o avanço da doença, atividades básicas como comer, tomar banho ou dormir podem tornar-se difíceis. Algumas sugestões:

Higiene:

  • Ofereça ajuda sem infantilizar;
  • Se necessário, substitua utensílios cortantes, como lâminas, por alternativas elétricas; 
  • Mantenha o ambiente aquecido e os produtos organizados por ordem de uso; 
  • Para facilitar o dia a dia, pode ser benéfico privilegiar roupas mais fáceis de vestir, que promovam a autonomia do doente.
  • Opte, por exemplo, por substituir botões por velcro ou fechos e evite peças apertadas ou justas, dando preferência a vestuário e calçado confortáveis e simples;
  • Especialmente nas fases iniciais da doença, é importante promover a autoestima da pessoa. Pequenos gestos, como pentear o cabelo ou cuidar da aparência, podem fazer toda a diferença.

Alimentação:

  • Escolha refeições simples, com cores e texturas variadas;
  • Não apresse a pessoa e dê-lhe o tempo que for necessário; 
  • Garanta que o doente bebe diariamente um litro e meio de água; 
  • Respeite preferências alimentares e esteja atento a dificuldades em mastigar ou engolir.

Sono:

  • Mantenha horários regulares para dormir e acordar;
  • Evite sestas prolongadas durante o dia e reduza estímulos à noite; 
  • Acomode o quarto de forma a evitar acidentes, caso existam deambulações noturnas.

Adaptação do Ambiente

Preparar a casa é essencial para reduzir o risco de quedas, acidentes ou desorientação:

  • Elimine tapetes soltos e obstáculos no chão;
  • Use iluminação suave e constante, especialmente durante a noite;
  • Identifique portas com etiquetas ou cores distintas;
  • Evite fazer mudanças desnecessárias, como mudar as coisas de lugar; 
  • Se possível, instale mecanismos de segurança nas portas e janelas; 
  • Guarde objetos perigosos (fósforos e utensílios cortantes) e substâncias potencialmente tóxicas (medicamentos e detergentes) fora do alcance.

Fases avançadas: Cuidados paliativos

Nas fases mais avançadas, o foco passa a ser o conforto, dignidade e bem-estar da pessoa com doença de Alzheimer. Nesta altura, poderá ser necessário:

  • Supervisão contínua;
  • Adaptação da alimentação a texturas mais fáceis de engolir;
  • Cuidados de enfermagem para higiene, prevenção de feridas e mobilidade;
  • Apoio emocional à família e preparação para o fim de vida.

Sempre que possível, é recomendável manter a pessoa no seu ambiente familiar, onde se sente mais segura e rodeada de referências conhecidas. O recurso a internamentos deve ser reservado a situações muito específicas e, idealmente, de curta duração, como períodos de instabilidade clínica ou necessidade de cuidados especializados temporários.

Autocuidado do cuidador

Cuidar de alguém com demência é um trabalho contínuo e muitas vezes solitário. Por isso, cuidar de si é tão importante como cuidar do outro:

  • Aceite ajuda de familiares, amigos ou serviços de apoio;
  • Tire momentos de descanso e lazer para si;
  • Procure grupos de apoio ou acompanhamento psicológico;
  • Não hesite em pedir orientação profissional.

É importante lembrar-se que não está sozinho e que com ajuda externa tudo se torna mais fácil.
Precisa de apoio especializado? 


 O Hospital Lusíadas Alfragide  disponibiliza programas de acompanhamento para pessoas com doença de Alzheimer e outras demências. Informe-se e conheça as opções disponíveis.

 

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Prof. Dra. Luísa Alves

Prof. Dra. Luísa Alves

Hospital Lusíadas Alfragide

Especialidades em foco neste artigo

Especialidades em foco neste artigo

PT