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Consulta para deixar de fumar

Colaboração
As consultas para deixar de fumar são especializadas, multidisciplinares e combinam o aconselhamento e apoio comportamental e psicológico, com o tratamento farmacológico. Eduarda Pestana, pneumologista do Hospital Lusíadas Lisboa, explica como funcionam.

A quem se destina a consulta para deixar de fumar?

A consulta para deixar de fumar destina-se precisamente a todos os fumadores que se encontrem motivados para deixar de fumar, com uma dependência elevada à nicotina, e que não tenham parado de fumar após tentativas anteriores.

Como é composta a equipa médica?

A equipa nuclear é constituída por um médico e um enfermeiro. Sempre que possível, deve haver o apoio de um psicólogo e de um nutricionista. Cada elemento da equipa tem funções específicas e bem definidas e deve haver interação entre os vários elementos da equipa, uma vez que os melhores resultados se obtêm com a participação complementar dos vários profissionais.

Como decorre a consulta para deixar de fumar?

Na consulta para deixar de fumar é feita a avaliação do fumador que tem por base o preenchimento da ficha clínica onde, além dos dados biográficos, são identificadas as doenças relacionadas com tabaco e a existência de outras patologias que possam interferir com terapêutica farmacológica.

São também analisadas:

  • Tentativas anteriores, recaídas, principais motivos e dificuldades;
  • Níveis de dependência de nicotina;
  • Motivação;
  • Perfil do fumador e da escala de ansiedade e depressão.

Devem registar-se os resultados dos parâmetros vitais e procede-se ainda ao doseamento de monóxido de carbono no ar expirado. Segue-se o aconselhamento comportamental e a proposta de terapêutica farmacológica.

A consulta é posteriormente prolongada durante quanto tempo?

A intervenção de apoio intensivo para cessação tabágica assenta numa abordagem programada ao longo de vários meses, idealmente até um ano. Propõe-se um programa de cessação tabágica estruturado em 4 a 6 consultas médicas e 3 a 4 contactos telefónicos, a realizar pelo enfermeiro ou pelo médico ao fim de dois, seis e doze meses.

O programa de contactos diretos e indiretos programados com o fumador deverá ser adaptado em função das necessidades sentidas pelo próprio, e dos resultados da avaliação realizada pelo profissional de saúde.

Trabalhos de casa

Ao fumador que está verdadeiramente motivado para deixar de fumar, algumas mudanças de comportamento são a estratégia fundamental no plano inicial de ajuda. Assim deve:

  • Avaliar as situações em que fuma habitualmente;
     
  • Fazer uma lista dos principais motivos que justificam a decisão de parar de fumar (benefícios para a saúde, sociais, monetários e outros);
     
  • Fixar uma data para parar de fumar – o chamado “dia D” – , que pode ser um dia especial e preparar-se com antecedência;
     
  • Partilhar a intenção de deixar de fumar com os familiares e amigos mais íntimos, de modo a obter encorajamento e ajuda;
     
  • Preparar-se para a mudança e estabelecer uma estratégia para parar;
     
  • Retirar de casa, do carro, e do local de trabalho, os cinzeiros e sobretudo o tabaco para não “cair em tentações”;
     
  • Eliminar ou reduzir o consumo de bebidas excitantes como o café e o álcool;
     
  • Procurar um estilo de vida mais saudável, tentando praticar exercício físico e manter uma dieta adequada;
     
  • Prestar atenção aos momentos mais “perigosos” em que habitualmente fumava um cigarro e encontrar alternativas ao cigarro;
     
  • Ter sempre algo para mastigar, para ultrapassar o ”vício de boca”, assim como algo para manipular, a fim de combater a dependência gestual;
     
  • Tente encontrar compensações. Pense positivamente, um dia de cada vez.

Ao final de quanto tempo o fumador pode ser considerado ex-fumador?

A dependência do tabaco é considerada uma doença crónica, que requer intervenções repetidas, uma estratégia a longo prazo, e em que são frequentes as recaídas. Estas acontecem sobretudo no primeiro mês e vão diminuindo ao longo do tempo, sendo inferiores a 2% a partir de um ano. Há assim alguma unanimidade em considerar o fumador como ex-fumador ao fim de pelo menos um ano sem fumar.

Quais são as melhorias significativas ao nível da saúde?

  • Após 30 minutos, a pressão arterial e a frequência cardíaca normalizam-se;
     
  • Ao fim de oito horas, os níveis de monóxido de carbono baixam e os níveis de oxigénio no sangue aumentam;
     
  • Passadas 72 horas, a capacidade pulmonar melhora e torna-se mais fácil respirar;
     
  • O hálito fica mais fresco, a tosse matinal diminui, o paladar e o olfato melhoram, assim como o tom e o aspeto da pele;
     
  • O risco de enfarte do miocárdio começa a diminuir gradualmente e há uma melhoria da resistência física;
     
  • A médio prazo há uma melhoria da saúde oral, assim como o risco de doenças graves, como o cancro, as doenças cardiovasculares e doenças respiratórias, e de morte prematura;
     
  • Um ano após deixar de fumar o risco de enfarte de miocárdio reduz 50% e ao fim de 15 anos o risco relativo de morte por doença isquémica cardíaca é igual ao do não fumador;
     
  • Ao fim de 10 anos sem fumar o risco de cancro do pulmão reduz-se para 50%;
     
  • Após 15 anos de abstinência, o risco de acidente vascular cerebral (AVC) é igual ao do não fumador com o mesmo sexo e idade;
     
  • As pessoas que deixam de fumar antes dos 50 anos de idade diminuem para metade o risco de morte nos 15 anos seguintes.

Como evitar o aumento de peso?

Cerca de 80% dos fumadores aumentam em média entre 3 a 5 quilos quando param de fumar. De um modo geral, não têm por hábito praticar exercício físico e são mais sedentários que os não fumadores, pelo que a prática de desporto é essencial e deve fazer parte de um bom programa de cessação tabágica. O exercício físico regular queima calorias, deprime o apetite, reduz a vontade de fumar, ajuda a controlar os sintomas de privação, ajuda a lidar com o stresse e a ansiedade, melhora a autoestima.

Que tipo de medicação é aconselhada?

  • Substitutos de nicotina que existem comercializados no nosso país sob a forma de discos transdérmicos, gomas e pastilhas.
  • Fármacos em comprimidos, que não contêm nicotina, mas que ocupam os recetores cerebrais de nicotina, reduzem a vontade de fumar e diminuem os sintomas de privação.

Nos grandes fumadores muito dependentes pode mesmo ser necessário recorrer à combinação de vários destes fármacos. A escolha do tipo de tratamento na consulta para deixar de fumar deve respeitar o grau de dependência do fumador, as contraindicações do fármaco e as interações medicamentosas, as necessidades e preferências do fumador, e as experiências passadas com estas terapêuticas em anteriores tentativas.

Para ajudar aqueles que querem deixar de fumar, o Hospital Lusíadas Lisboa e outras Unidades Lusíadas têm uma consulta para deixar de fumar, a Consulta de Cessação Tabágica, integrada na Unidade de Pneumologia, com capacidade para assistência diária.

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Revisão Científica

Dra. Eduarda Pestana

Dra. Eduarda Pestana

Hospital Lusíadas Lisboa

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