O Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental dos Jovens: Guia Prático para os pais
Autoestima e Comparação Social
Uma das principais preocupações associadas às redes sociais é o impacto que estas têm na autoimagem e autoestima dos adolescentes. A comparação constante é um dos fatores mais prejudiciais.
Até há bem pouco tempo, os jovens comparavam-se com colegas da escola, conhecidos ou figuras públicas distantes. Neste último caso, existia uma perceção clara da diferença — uma idealização consciente e limitada pela noção de que essas personalidades eram, em grande parte, inalcançáveis.
Hoje, esse comportamento tem contornos bastante diferentes. Os adolescentes comparam-se com milhares de pessoas em todo o mundo, na sua maioria desconhecidos, através de conteúdos que lhes chegam altamente filtrados e editados. Esta realidade apresenta padrões quase sempre inatingíveis de beleza, sucesso e estilo de vida. O que veem nos seus feeds raramente corresponde à verdade: é uma versão construída, frequentemente artificial, que mostra apenas o lado “perfeito” da vida dos outros.
Este ambiente aliado a uma fase de maior vulnerabilidade emocional que é a adolescência, pode gerar sentimentos de frustração, ansiedade, insegurança e tristeza. Ao compararem os seus dilemas e imperfeições com vidas aparentemente perfeitas, muitos adolescentes sentem que não são suficientemente bons, o que pode ter consequências sérias na sua saúde mental.
Como pode ajudar?
- Incentivar conversas abertas sobre o que é ou não real;
- Ajudar os adolescentes a identificar perfis que promovam bem-estar e diversidade;
- Fomentar o desenvolvimento da autoestima através de atividades offline, como desporto, artes ou voluntariado;
- Evitar comentários críticos, procurando valorizar sempre as capacidades e competências dos jovens;
- Não desvalorizar os interesses ou gostos dos adolescentes, antigos ou mais recentes.
Relações Interpessoais e Comunicação
As redes sociais facilitam a ligação entre adolescentes, mas também podem substituir interações presenciais mais profundas e significativas. A comunicação digital, embora útil, pode tornar-se superficial ou mesmo criar mal-entendidos, exclusões e/ou cyberbullying.
Além disso, o tempo excessivo nas redes pode afetar relações familiares e amizades, reduzindo o tempo passado em convívio.
Sugestões para fortalecer e manter as relações offline:
- Estabelecer momentos em família sem ecrãs (como às refeições);
- Encorajar os adolescentes a manter atividades sociais presenciais, como encontros com amigos ou grupos desportivos;
- Promover convites presenciais com pares.
Disrupção do Sono e Concentração
A utilização intensa das redes sociais, sobretudo à noite, tem sido associada a dificuldades em adormecer, menor qualidade de sono, alterações do humor e fadiga diurna. As notificações constantes, a necessidade de estar sempre online e o uso de ecrãs antes de dormir afetam negativamente os ritmos biológicos. Para além do sono, a concentração e o rendimento escolar também podem sofrer com a dispersão causada pelas redes.
O que fazer?
- Definir um “recolher digital", desligando os dispositivos pelo menos 1 hora antes de dormir;
- Incentivar o uso de despertadores tradicionais para evitar levar o telemóvel para o quarto;
- Criar áreas livres de ecrãs em casa, como o quarto ou a mesa de refeições;
- Dar o exemplo, seguindo os adultos as mesmas regras.
Exposição ao Risco
As plataformas digitais podem expor os adolescentes a conteúdos inadequados, desinformação ou contacto com desconhecidos, o que exige maior vigilância e diálogo aberto com os pais ou educadores.
É importante que os jovens saibam como agir perante situações desconfortáveis e que se sintam seguros para pedir ajuda.
Dicas úteis para evitar esta exposição:
- Ensinar regras básicas de cibersegurança e privacidade;
- Estar atento a mudanças de comportamento e sinais de alerta, como isolamento, irritabilidade ou alterações no sono e apetite;
- Aprender a identificar sinais de risco de doença mental nos jovens;
- Ter uma relação de confiança com os adolescentes, promovendo o diálogo aberto e impedindo que sintam receio de partilhar as suas preocupações.
Estratégias para reduzir o tempo de ecrã
Reduzir o tempo de ecrã não tem de ser visto como um castigo, podendo ser uma forma de promover o equilíbrio e a autonomia.
Aqui ficam algumas estratégias simples:
- Criar horários para o uso das redes sociais;
- Usar aplicações de controlo de tempo de ecrã;
- Propor desafios familiares como um dia ou dias offline;
- Promover hobbies e atividades offline que estimulem a criatividade e a atividade física (exposições, concertos, passeios, ...) e que vão ao encontro dos interesses dos jovens;
- Explicar os motivos pelos que existe a necessidade de impor estes limites.
Aspetos Positivos
Nem tudo nas redes sociais é negativo. Estas plataformas também oferecem espaços de pertença, criatividade, expressão pessoal e aprendizagem. Muitos jovens usam as redes para aceder a recursos educativos, causas sociais, comunidades de apoio e para manter contacto com amigos e familiares.
Quando usadas de forma consciente e equilibrada, as redes sociais podem ser ferramentas importantes para o crescimento pessoal e social dos adolescentes.
Conclusão
O impacto das redes sociais nos adolescentes é complexo e multifacetado. Embora existam riscos reais, a chave está no equilíbrio, na informação e no diálogo constante entre pais, educadores e jovens. Promover uma presença online consciente, crítica e saudável é essencial para garantir que os adolescentes possam tirar partido do melhor que estas plataformas podem oferecer, sem comprometer o seu bem-estar.
A proibição baseada no autoritarismo da hierarquia sem existir um diálogo com os jovens, poderá prejudicar os vínculos positivos nas relações, tão necessários para que os adolescentes cresçam seguros e que confiem nos adultos de referência.
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