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Como se têm alimentado os portugueses?

A obesidade é uma doença crónica com um importante impacto na saúde pública.

Em Portugal, de acordo com o último Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), referente a 2016, mais de metade da população portuguesa (57,1%) apresentava um peso excessivo para a sua altura: 22,3% da população tinha obesidade e 34,8% pré-obesidade.

Em 36 países europeus, Portugal é o 16º com maior prevalência de obesidade infantil. Através do estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI), conclui-se que 1 em cada 3 crianças são obesas.

Na raiz destes números está um estilo de vida pouco equilibrado. De acordo com o IAN-AF, a população portuguesa em geral apresenta um consumo de alimentos dos grupos dos hortofrutícolas e das leguminosas inferior ao recomendado. Os portugueses estão ainda a consumir maiores quantidades de carne, pescado e ovos do que o recomendado.

Relativamente à atividade física, 43% da população portuguesa com idade superior a 14 anos classifica-se como “sedentária”.

De forma a delinear ações futuras e definir prioridades de atuação, é necessário que se compreenda de modo mais pormenorizado quais os principais fatores que contribuem para o panorama da situação atual. Há cinco pontos essenciais que devem ser tidos em conta.

Frutas e hortícolas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo médio diário de 400g de frutas e hortícolas, o que equivale a cinco porções diárias destes alimentos. Porém, o consumo médio dos portugueses é de apenas 312 gramas por dia. Conclui-se ainda que mais de metade da população portuguesa (56%) não atinge esta recomendação.

Ao analisar estes dados por faixas etárias, constata-se que as crianças e os adolescentes são os grupos que apresentam um menor consumo destes alimentos. De facto, 72% e 78% das crianças e adolescentes, respetivamente, não cumprem esta recomendação.

Carnes processadas e carnes vermelhas

Quanto às carnes processadas (produtos de charcutaria, salsicharia, entre outros), um consumo superior a 50 gramas por dia representa um aumento de 18% do risco de desenvolver cancro do cólon. Constata-se que 6,3% da população portuguesa ultrapassa este limite diariamente.

Relativamente às carnes vermelhas, um consumo de 100 gramas diários está associado a um aumento do risco de desenvolver cancro do cólon em 17%. Neste caso, verifica-se que 22,5% dos portugueses ultrapassam este consumo, verificando-se maioritariamente em adolescentes e adultos.

Gorduras

Verifica-se que 23,6% da população portuguesa realiza ingestões acima do recomendado de todo o tipo de gorduras.
Além disso, no que diz respeito ao aporte de ácidos gordos saturados, cerca de 53% da população excede as recomendações.

Açúcares

A recomendação diária do consumo de açúcares simples é de até 10% do Valor Energético Total (VET) da dieta. No entanto, a ingestão média da população portuguesa de açúcares simples é de 84 gramas por dia, representando 18% do VET.

Os géneros alimentícios que mais contribuem para estes valores são o açúcar de adição, doces (nomeadamente rebuçados, gomas, compotas e chocolates) e refrigerantes.

Bebidas

Os refrigerantes são a segunda bebida mais consumida pelos portugueses — cerca de 18% da população portuguesa ingere diariamente pelo menos um refrigerante ou néctar. No entanto, esta ingestão é superior nos grupos das crianças e dos adolescentes, que são os maiores consumidores destes dois tipos de bebida.

No que diz respeito ao consumo de bebidas alcoólicas, verificam-se diferenças significativas entre géneros. Em geral, o género masculino apresenta ingestões superiores.

No entanto, na população com idade igual ou superior a 15 anos, observa-se um consumo elevado por parte de 8,5% das mulheres (>12 gramas por dia) e 25,8% dos homens (>24 gramas por dia). Em ambos, o vinho e a cerveja são as bebidas alcoólicas de eleição.


Resumindo

Através da análise destes dados, é evidente que grande parte da população apresenta hábitos alimentares que poderão contribuir para o excesso de peso.

Em suma, constituem prioridades de intervenção aumentar o consumo de hortofrutícolas e diminuir o consumo de açúcares, carnes vermelhas e processadas, gorduras e bebidas alcoólicas.

Deste modo, a nutrição e a prática de atividade física são pilares na construção de estilos de vida saudáveis.
 

Autoras:
Beatriz Vieira (nutricionista no Hospital Lusíadas Amadora)
Cristiana Brito (nutricionista no Hospital Lusíadas Amadora)

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