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Odontopediatria: quando e porquê levar uma criança ao dentista

Colaboração
Especialidade promove os bons hábitos de higiene oral desde a infância, evitando complicações futuras.

Quando é que uma criança deve visitar o dentista pela primeira vez? Pode ser uma surpresa, mas o ideal é que a primeira consulta com o médico dentista aconteça logo no primeiro ano de vida, quando começam a nascer os primeiros dentes decíduos, mais conhecidos por dentes de leite. É a partir daqui que a saúde oral começa a ter um papel importante na vida da criança, sendo, por isso, crucial monitorizar o estado e crescimento dos dentes. 

Este é o papel da odontopediatria: “É a especialidade da Medicina Dentária responsável pela manutenção da saúde oral infantil (bebé, criança e adolescente)”, explica Daniela Queiroz, médica dentista com formação específica em odontopediatria, do Hospital Lusíadas Porto.

Cuidados especiais

O principal objetivo da odontopediatria é a manutenção da dentição primária íntegra e saudável até ao período de exfoliação natural — ou seja, até ao momento em que os dentes de leite começam a cair, para serem substituídos pela dentição definitiva.

“Como forma de prevenir futuros problemas, é extremamente importante atuarmos precocemente na educação e motivação dos pais e da criança face aos bons hábitos alimentares e de higiene oral”, sublinha a médica dentista.

É por este motivo necessário um olhar específico no que toca a estas faixas etárias. “As crianças não são adultos em ponto pequeno. Como tal, necessitam de uma abordagem diferente e adequada a cada etapa do seu desenvolvimento”, defende Daniela Queiroz.
 
“A linguagem e a postura do odontopediatra têm que se adaptar à criança de forma a que ela compreenda as mensagens transmitidas. Só assim a criança estará recetiva a cumprir as instruções e conselhos dados pelo médico dentista e, sobretudo, recetiva à realização dos tratamentos necessários.”

A primeira consulta

“A primeira visita deve realizar-se durante o primeiro ano de vida, quando começa a nascer o primeiro dente”, diz Daniela Queiroz.

Na primeira consulta, o médico tem a oportunidade de avaliar os hábitos alimentares e de higiene da criança. Além disso, analisa a forma como ela compreende e se interessa pelos assuntos que estão a ser abordados, sem esquecer os possíveis medos e ansiedades que possa ter. 

A isto soma-se a avaliação da “sensibilidade dos pais para estes assuntos”, diz a especialista. Esta será sempre uma oportunidade para implementar as bases de higiene oral, que serão fundamentais para o resto da vida.

Do ponto de vista da saúde oral, nesta consulta avaliam-se os fatores de risco de cárie na criança. Depois, dependendo da sua idade, há vários parâmetros que podem ser observados: a cronologia do surgimento dos dentes, o estado da dentição já presente em boca, a sua integridade, forma ou posição, assim como o perfil da criança e as relações entre os maxilares. 

Nestas etapas, podem observar-se também as particularidades anatómicas congénitas que podem ser alvo de tratamento. 

Alguns aspetos a que é importante estar atento:

  • Uso tardio da chupeta e hábito da sucção dos dedos;
  • Se ainda há persistência de deglutição infantil, que deveria evoluir à medida que se introduzem alimentos pastosos e depois sólidos;
  • Se a criança tem anquiloglossia (freio lingual, que segura a língua à parte inferior da boca, curto), já que pode impedir a criança de mexer a língua normalmente, provocando, por exemplo, alterações na dicção;
  • A existência de freio labial anormalmente largo ou longo que pode originar a presença de diastema central (espaço entre os incisivos centrais superiores).

Problemas mais recorrentes

Os problemas que normalmente são detetados nestas fases da vida são as cáries provocadas por hábitos alimentares prejudiciais (ingestão de muitos doces) ou má higiene oral. Quando as crianças surgem com várias cáries, algo que é frequente, o dentista deverá remover a cárie e restaurar o dente.

“Muitas vezes, há algumas lacunas por parte dos pais na instrução e acompanhamento da implementação de regras alimentares e hábitos de escovagem”, considera Daniela Queiroz.

Em certas crianças, são também encontrados desvios esqueléticos, como o crescimento dos maxilares alterados. Este fenómeno pode ser decorrente de maus hábitos, como o uso tardio da chucha ou a sucção digital tardia, podendo também ter uma causa hereditária. A correção destes problemas passa pela ortodontia intercetiva, isto é, pelo uso de um aparelho dentário, que, quando aplicado inicialmente, pode evitar que, na vida adulta, estes problemas se tornem mais graves e de difícil resolução.

“Podem também ser detetadas alterações ortodônticas ou esqueléticas, assim como na mineralização do esmalte. Quando acompanhadas desde muito cedo, poderão ser totalmente corrigidas ou atenuadas, evitando-se, assim, o seu agravamento.”

Importância das consultas 

É importante que as crianças iniciem as consultas de odontopediatria cedo. “Quando as crianças são acompanhadas desde a infância, além de conseguirmos implementar os bons hábitos, temos também a oportunidade de detetar precocemente alguns problemas. No caso de já existirem cáries, sendo estas encontradas em fase inicial, torna-se mais simples o seu tratamento”, sublinha a médica. 

Em oposição, adiar a vigilância da saúde oral potencia o agravamento de patologias nas fases seguintes da vida, além de tratamentos mais demorados.  

“Cáries não tratadas evoluem e resultam, muitas vezes, em dores fortes e até em abcessos”, diz. “Podem levar, por vezes, à perda precoce do dente, com todos os problemas que daí advêm: potencial perda de capacidade mastigatória ou perda de espaço para o dente permanente que iria substituir o que foi perdido”, explica a médica.

Por outro lado, problemas não detetados precocemente e que exigem o uso de aparelho — como as maloclusões (quando os dentes de cima não ocluem corretamente com os de baixo) —  agravam  com o passar dos anos, resultando em tratamentos de mais difícil resolução. 

Há também um lado psicológico a ter em conta. Daniela Queiroz lembra que vai ser sempre mais difícil “implementar boas práticas de higiene e alimentação saudável quando já há maus hábitos muito enraizados”.
  
Além disso, quando a criança vai à consulta já com problemas avançados, é possível que haja mais ansiedade e medo em relação ao tratamento, que provavelmente terá de ser mais complexo.

É crucial não adiar. “Adiar a consulta de odontopediatria pode ser transformar consultas de prevenção e acompanhamento em que a criança se sente confiante e feliz em consultas em que a criança vem com dor e, por isso, com medo, receosa e muito menos colaborante.”

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Revisão Científica

Dra. Daniela Queiroz

Dra. Daniela Queiroz

Hospital Lusíadas Porto
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