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Cancro da próstata: sintomas e fatores de risco

Luís Osório, Coordenador da Unidade de Urologia no Hospital Lusíadas Porto, destaca que o rastreio e deteção precoce do cancro da próstata têm um impacto muito relevante no sucesso do tratamento.

O cancro da próstata é um processo de crescimento anormal e desorganizado de algumas células desta glândula do sistema reprodutor masculino, que nas situações onde o diagnóstico ou o tratamento se atrasam levam a uma proliferação descontrolada da patologia. 

Na maioria dos casos apresenta um comportamento assintomático, por dois motivos: a evolução lenta e o crescimento tumoral surgir, frequentemente, na zona periférica da próstata. Quando não é tratado em tempo oportuno, pode levar ao envolvimento tumoral de toda a glândula, invasão para órgãos vizinhos ou mesmo disseminação hematogénica/linfática, mais conhecida como metastização. Os locais de metastização mais comuns são os gânglios linfáticos e o osso.

O cancro da próstata em números  

O cancro da próstata é atualmente um dos tumores mais frequentes no homem, sendo considerado a segunda causa de morte oncológica mais comum desta população. Em Portugal, são diagnosticados cerca de 6000 casos de cancro da próstata por ano, o equivalente a 21% de todos os tumores no homem. Em média, um em cada seis homens será diagnosticado com cancro da próstata ao longo da sua vida. Estes números são considerados muito elevados e podem ser facilmente controlados com uma prevenção eficaz e um diagnóstico precoce.

 
Fatores de risco  

Existem vários fatores de risco para o cancro da próstata, sendo a idade o mais importante. Ainda que possa surgir em pessoas mais jovens, é mais frequente acima dos 65 anos — aumentando exponencialmente o risco conforme aumentam também os anos.

A hereditariedade/história familiar é também um fator de risco cada vez mais importante. No caso de cancro da próstata em pais ou irmãos, o risco de desenvolver este tumor aumenta muito — e, geralmente, quanto mais parentes afetados maior o risco. 

Existe uma pequena sub-população de pessoas (9%) com diagnóstico de cancro da próstata hereditário, definido com a existência de três ou mais parentes afetados, ou de, pelo menos, dois parentes com tumor diagnosticado antes dos 55 anos. Habitualmente, este grupo desenvolve o cancro da próstata seis a sete anos mais cedo do que a população geral. 

Apesar das causas não serem claras, a etnia é considerada também um importante fator de risco, sendo este cancro mais frequente em homens afrodescendentes. 

Os hábitos alimentares, consumo de álcool, exposição ocupacional, comportamento sexual, exposição a testosterona, obesidade e inflamação crónica são habitualmente apontados como sendo eventuais fatores de risco para o desenvolvimento da patologia. No entanto, não existe até à data, evidência suficiente para recomendar alterações do estilo de vida.

Um tumor assintomático

Pela sua evolução lenta do tumor e porque o crescimento tumoral se localiza preferencialmente na zona periférica da glândula, o cancro da próstata começa, na maioria dos casos, por ser uma patologia assintomática.  Por este motivo, grande parte dos sintomas pode demorar anos até se tornar evidente, manifestando-se muitas vezes em fases mais avançadas da doença. 

Quando presentes, estes sintomas podem estar relacionados com a obstrução criada pela própria glândula: 

  • Dificuldade em urinar;
  • Aumento da frequência em urinar;
  • Incontinência urinária;
  • Sangue na urina/sémen.

Nos casos de doença avançada, os sintomas são mais gerais:

  • Dores ósseas;
  • Edemas dos membros inferiores;
  • Astenia;
  • Quebra do estado geral;
  • Entre outros.


Como é feito o diagnóstico e como é o tratamento? 

A suspeita de um cancro da próstata surge na presença de alterações do toque retal e/ou elevação do doseamento PSAT, os dois exames utilizados para o rastreio do tumor. 

O toque retal é o exame de diagnóstico essencial na avaliação da próstata, que permite, por um lado, esclarecer as dimensões e consistência da glândula e, por outro, descartar a presença de nódulos suspeitos. 

Já o PSA (antigénio específico da próstata) é uma proteína produzida pelas células da próstata, que tem como principal função tornar o esperma líquido. Em algumas situações clínicas, como, por exemplo, no cancro da próstata, parte desta proteína entra nos vasos sanguíneos, levando a uma elevação do seu doseamento nas análises. 

No seguimento da investigação e caso necessário, existem meios auxiliares de diagnóstico complementares, como a ecografia prostática transretal e a ressonância magnética nuclear multiparamétrica. Estes exames permitem identificar a presença do tumor, caracterizar localmente a doença e avaliar o grau de progressão. 

No entanto, a confirmação do diagnóstico depende sempre do resultado histológico da biópsia prostática. A biópsia prostática é realizada na maioria das vezes por via transretal, guiada por ecografia. Este exame é realizado em regime de ambulatório sob anestesia local, minimizando as queixas inerentes ao procedimento. Nos últimos anos houve um interesse crescente na biópsia prostática de fusão. Em causa está o facto de que com este método, onde se faz a fusão das imagens previamente obtidas pela ressonância magnética com as imagens da ecografia, torna-se possível a deteção do cancro com maior precisão e eficácia.

Os tratamentos atualmente disponíveis e aceites são a cirurgia (prostatectomia radical), a radioterapia, a braquiterapia, crioterapia e tratamento focal. Face aos eventuais efeitos laterais dos tratamentos existentes (disfunção erétil e incontinência urinária) e do impacto na qualidade de vida, as opções terapêuticas deverão ser cuidadosamente discutidas de forma individual. O aparecimento de novas técnicas de tratamento minimamente invasivas, como a prostatectomia radical laparoscópica/robótica (cirurgia realizada por pequenos orifícios) e a braquiterapia (colocação de sementes radioactivas), permitem a cura da patologia, estando associadas a um risco de complicações inferior e muito diferente dos obtidos há alguns anos.

A importância da atitude preventiva e como adotá-la 

A deteção precoce do cancro da próstata tem um papel fundamental em todo o processo, uma vez que se for diagnosticado e tratado numa fase inicial a probabilidade de cura oncológica é grande. 

A deteção precoce ou rastreio oportuno consiste na realização de uma avaliação voluntária por iniciativa da própria pessoa (“check-up”). O rastreio é, então, realizado através do toque retal e pelo doseamento PSAT. Como referido anteriormente, na presença de alterações deverá ser realizada uma biópsia prostática via transretal. 

Apesar de não se ter demonstrado que o rastreio consiga aumentar o tempo de sobrevida, o resultado de um cancro da próstata diagnosticado numa fase precoce é significativamente melhor do que num estadio mais avançado. O principal objetivo do diagnóstico precoce consiste na identificação das pessoas com cancro clinicamente significativo e localizado, de forma a possibilitar a realização de tratamentos potencialmente eficazes e curativos. Detetar o cancro da próstata numa fase precoce permite tratar com uma taxa de cura que pode ser superior a 95%.
 
O cancro da próstata atinge todas as faixas etárias, mas nos últimos anos tem aumentado de forma significativa nos grupos mais jovens. A sobrevivência estimada ao fim de 5 anos após o diagnóstico é praticamente 100%.  
 
O aumento significativo da incidência do cancro da próstata deve-se, sobretudo, à introdução na prática clínica do PSA, que permitiu também que se assistisse a uma inversão dos estadios de apresentação inicial. Há 40 anos, a quase totalidade dos tumores eram já avançados quando se diagnosticavam, sendo hoje em dia a grande maioria dos cancros diagnosticados numa fase localizada suscetível de tratamento curativo. 

O receio das consequências do tratamento

As opções de tratamento do cancro da próstata são, regra geral, acompanhadas de questões e preocupações, que não assumem o mesmo protagonismo noutros procedimentos cirúrgicos. Existe, portanto, um grande misticismo associado à cirurgia prostática, sendo a disfunção erétil e a incontinência urinária as principais angústias dos indivíduos, levando muitas vezes a um atraso na procura de ajuda. 

Atualmente os que são confrontados com a necessidade de serem submetidos a cirurgia prostática podem reagir com maior serenidade, pois o procedimento não é sinónimo absoluto de disfunção erétil e incontinência urinária, não passando, portanto, de mitos perpetuados.
 
Todos os homens a partir dos 45 anos devem realizar uma consulta de rotina anual. No caso de pertencer a um grupo de risco (história familiar de cancro da próstata ou homens afrodescendentes), deverão realizar o rastreio a partir dos 40 anos, uma vez que apresentam uma probabilidade aumentada de ter cancro da próstata.
 
 

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Dr. Luís Osório

Dr. Luís Osório

Coordenador da Unidade de Urologia

Hospital Lusíadas Porto
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