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Burnout: conheça os sintomas

Revisão Científica
A síndrome que tem o desajustamento laboral como uma das fontes tem cura. Conheça melhor esta síndrome e quais os tratamentos disponíveis.

O que é?

Há quatro décadas, o psicoterapeuta norte-americano Herbert Freudenberger constatou que alguns dos seus colaboradores apresentavam, após um ano de atividade, desmotivação, queixas somáticas (como dores nas costas, problemas gastrointestinais, dores de cabeça) e mudanças de humor (irritabilidade, cólera, disforia). Tinham-se tornado intolerantes ao stresse e eram incapazes de gerir novas situações. 

Estávamos em 1974 e esta foi a primeira vez que o burnout foi descrito. Desde então surgiram diferentes definições para esta síndrome. Atualmente, a generalidade dos autores considera-a uma resposta complexa ao stresse profissional prolongado ou crónico. Segundo um estudo a nível nacional, publicado na Acta Médica Portuguesa em 2016, em 1728 pessoas (466 médicos e 1262 enfermeiros), 21,6% apresentavam burnout moderado e 47,8% burnout elevado. Entre todos os fatores estudados, as más condições de trabalho eram o maior preditor de burnout.

Também se prevê uma elevada incidência desta síndrome em polícias e nos profissionais da área da Educação (sobretudo em docentes de instituições e de turmas com elevada indisciplina), refere José Fernando Santos Almeida, coordenador da Unidade de Psiquiatra do Hospital Lusíadas Porto.

Sintomas

O doente pode sofrer um conjunto muito amplo de sintomas, nomeadamente:

1. Afetivos

Como tristeza, irritabilidade, perda de controlo emocional, desânimo, apatia, humilhação, revolta, mágoa, fúria, preocupação.

2. Cognitivos

É frequente ter dificuldades de atenção e de concentração, dificuldades de memória, diminuição da autoconfiança, do autoconceito, da autoestima e da autoimagem.

3. Físicos

Sintomas psicossomáticos (como falta de ar, coração acelerado, sintomas gastrointestinais, problemas cutâneos, queixas musculares), fadiga, hipertensão arterial, entre outros.

4. Alterações comportamentais

Podem ser múltiplas e traduzir-se em comportamentos tão diversificados como um ligeiro aumento da rispidez até um comportamento marcadamente agressivo, ou distanciamento relativamente ao outro e isolamento social, consumo de substâncias (desde logo o álcool), comportamento de jogo, propensão para ter acidentes, etc.

5. Atitude em relação ao trabalho

São mais frequentes as atitudes e os comportamentos negativos relativamente ao trabalho, com desmotivação e, consequente menor entusiasmo, empenho e eficácia profissionais.

Causas

O burnout pode ocorrer porque há uma maior competitividade no local de trabalho, uma pressão inadequada (desajustamento nas funções atribuídas, sobrecarga de tarefas, alterações no horário de trabalho) ou porque a atividade exercida é muito intensa, sujeita a riscos, exemplifica o psiquiatra José Fernando Santos Almeida. As causas do burnout podem dividir-se em três fontes:

  • Fontes de stresse habituais da atividade profissional

Fontes de stresse típicas da atividade profissional e que abranjam áreas de conflito: competência(s),  autonomia, relação com os clientes, realização pessoal, falta de apoio social de colegas e superiores.

  • Fatores organizacionais

Podem ser, entre outros, a elevada sobrecarga de trabalho, o desajustamento entre os objetivos da instituição e os valores pessoais dos profissionais, o isolamento social no trabalho.

  • Fatores de ordem pessoal

Entre os quais estão as relações familiares e as amizades.

Grupos de risco

Qualquer trabalhador pode sofrer de burnout. Numa fase inicial, pensava-se que entre os profissionais que têm um envolvimento mais direto e intenso (como na área da saúde ou as forças policiais) haveria maior suscetibilidade para desenvolver burnout. Mas esta perspetiva foi alargada para todas as atividades.

Tratamento do burnout

O tratamento implica melhorar as circunstâncias e as condições que originaram o burnout, de que se destacam a melhoria das condições de trabalho e das relações profissionais com diminuição do isolamento.

Não raramente implica a retirada temporária – mas pode ser definitiva – do local de trabalho, a reorganização das suas atividades, um adequado investimento em outros interesses, como um maior convívio com família e amigos, a prática de exercício físico ou de atividades relaxantes.

Pode ainda ser necessária ajuda médica, nomeadamente, quando a pessoa tem sintomas como a depressão, a ansiedade e que justificam farmacoterapia. A psicoterapia pode ajudá-la a compreender melhor as razões que o levaram a padecer de burnout e a evitar procedimentos semelhantes no futuro.

O burnout tem cura?

Na maioria das situações tem cura. A ajuda de um profissional de saúde pode ser relevante neste processo. Todavia, quando não é devidamente tratada, pode estar associada a uma evolução para a cronicidade ou pode originar outro problema, como a dependência do álcool.

Burnout e depressão

O burnout é causado por uma exaustão ou stresse profissional e, uma vez retirada dessa situação, a pessoa melhora significativamente e recupera. Mas pode ser acompanhado de uma depressão e, nesta circunstância, é mais provável que a pessoa continue a estar depressiva (com humor triste, baixa da autoestima, apatia, falta de prazer e/ou desinteresse por atividades que eram agradáveis, sem energia, apetite, cansaço) apesar de já não vivenciar essa experiência que a levou ao burnout.

No entanto, os sintomas de burnout e de outros problemas, como a depressão ou as insónias, são muitas vezes sobreponíveis. Por exemplo, a insónia pode estar presente na depressão. Daí que o diagnóstico diferencial nem sempre seja fácil.

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Prof. Dr. Fernando Almeida

Prof. Dr. Fernando Almeida

Coordenador da Unidade de Psiquiatria

Hospital Lusíadas Porto

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