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Facto ou mito: o stresse torna o cabelo branco?

É comum ouvir as pessoas dizer, em períodos de stresse, que vão ficar com cabelos brancos. Mas será mesmo assim?

Diz-se que na véspera de ser executada, o cabelo de Maria Antonieta, arquiduquesa da Áustria e rainha consorte de França e de Navarra, ficou completamente branco. Supostamente, o stresse teria feito com que o cabelo perdesse a cor no espaço de apenas algumas horas. Os cientistas dizem que este fenómeno é extremamente improvável mas existe quem defenda que o stresse pode ter um papel no aparecimento gradual de cabelos brancos.

Como se forma e desenvolve o cabelo

Na 22ª semana de gestação, um feto em desenvolvimento tem todos os seus folículos pilosos formados. O nosso couro cabeludo tem cerca de cem mil folículos e na parte inferior de cada um as células trabalham em conjunto para produzir cabelos com cor. Enquanto os queratinócitos fabricam o cabelo com a ajuda da queratina (proteína que lhe dá força e textura), os melanócitos produzem um pigmento, a melanina.

A melanina tem duas tonalidades: a eumelanina (castanho-escuro/preto) e a feomelanina (amarelo/avermelhado), que são combinadas em diferentes proporções e que vão formar as várias cores e tonalidades de cabelo, desde o louro quase branco ao preto, passando pelo ruivo e pelos vários tons de castanho. Os melanócitos produzem conjuntos de melanina que são passados aos queratinócitos. Sem melanina, o cabelo não teria cor.

Cada cabelo cresce de forma independente, consoante a fase em que se encontra, caso contrário todos os cabelos cresceriam em simultâneo e, mais tarde, cairiam todos ao mesmo tempo. O ciclo de crescimento do cabelo pode durar entre dois a sete anos, altura em que o folículo entra em fase de repouso.

Nessa fase, embora não cresça mais, o cabelo continua agarrado ao folículo e, passado alguns meses, desprende-se durante a escovagem ou simplesmente cai.  Todos os dias caem entre 25 a 100 cabelos, o que é considerado absolutamente normal.

Porque fica o cabelo branco?

O aparecimento de cabelos brancos (“canície”) ocorre fisiologicamente a partir de certa idade e faz parte do envelhecimento normal. A nível geral, os primeiros cabelos brancos costumam começar a surgir por volta dos 35 anos nas mulheres e aos 30 nos homens, aumentando de número com o avançar da idade. É costume referir-se a regra dos 50: aos 50 anos, 50% das pessoas terá 50% de cabelos brancos.

Porém, isto não significa que não possam aparecer pela primeira vez antes ou depois dos 30/35 anos. A canície prematura pode surgir no seguimento de fatores hereditários; de doenças como vitiligo, alopecia areata e anemia; alterações hormonais como o hipotiroidismo; défice de vitamina B12; toma de certos fármacos, entre outros. Se algumas destas entidades forem detetadas e passíveis de tratamento, poderá ser revertida a descoloração do cabelo.

Durante bastante tempo, os investigadores pensaram que como consequência do processo de envelhecimento, os melanócitos se tornavam menos eficientes na produção de melanina. Embora esta teoria possa ter algum fundo de verdade estudos recentes da Universidade de Harvard, EUA, demonstraram que a par do envelhecimento ocorre um declínio de melanócitos, o que justificaria uma menor quantidade de melanina produzida.

Por outro lado, investigadores da Universidade de Humboldt, Alemanha, apuraram que o processo de síntese de melanina podia levar à produção de radicais livres (moléculas que danificam as células), provocando oxidação. Quando os melanócitos foram expostos  a esse stresse oxidativo, começaram a morrer e, por consequência, não ser produzida melanina.

Stresse e cabelos brancos  

A ideia de que o stresse influencia ou acelera o aparecimento de cabelos brancos parece ter tido início com vários estudos realizados em roedores para perceber a ligação entre os dois fenómenos.

Uma das teorias é de que reações produzidas localmente (por células no folículo) podem provocar uma inflamação sistémica que, por sua vez, promove a produção dos já falados radicais-livres que interferem no sinal que avisa os melanócitos para entregarem melanina aos queratinócitos. Nesta linha de raciocínio, se esse sinal for interrompido a melanina não chegará ao seu destino.

Outra teoria defende que o cabelo ficar ou não branco é delineado geneticamente (e prova disso seria que o embranquecimento precoce do cabelo costuma ocorrer em membros da mesma família), mas que o estilo de vida e o stresse podem interferir/acelerar o processo com uma variação de entre cinco a dez anos. Existem também especialistas que defendem que o stresse pode encurtar a duração dos ciclos do cabelo, o que levaria a que estes se tornassem grisalhos mais rapidamente do que seria expectável.

Em suma

A ciência tem vindo a reunir dados no sentido de demonstrar que o stresse pode interferir/acelerar o processo de embranquecimento do cabelo, mas ainda não existem provas científicas consistentes que demonstrem uma relação de causa e efeito. 

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