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Puerpério. Como cuidar da mãe e os sinais de alerta

Colaboração
A partir do momento em que o bebé nasce, as atenções centram-se nele. Mas é também importante centrar alguma da atenção na mãe, que atravessa um período único e de maior fragilidade. 

O puerpério — fase mais conhecida como pós-parto — é um período muito determinante na vida da mulher e uma altura de especial vulnerabilidade. Por vários motivos. Primeiro porque, do ponto de vista físico, a nova mãe está a aprender a relacionar-se com um novo corpo — aquele que recupera de uma gravidez, do parto e que atravessa alterações específicas desta fase seguinte. Depois, por toda a natural imprevisibilidade e insegurança relativos aos cuidados do bebé — que não traz um manual de instruções, que é sempre único e com necessidades próprias. E ainda devido à fragilidade associada à privação de sono e ao cansaço, que alimentam ainda mais este estado vulnerável.

“O período do pós-parto é muito importante. Marca muito a mulher naquele momento, marcando-a também para o futuro —podendo influenciar a relação que ela terá, daí para a frente, consigo própria”, explica Raquel Robalo, especialista em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Lusíadas Lisboa.

Na opinião da especialista, é comum o casal preparar muito o evento do parto e do pós-parto, mas sobretudo na ótica do bebé. Apostar na preparação da mãe, ressalva, é também fundamental para que o processo decorra o mais tranquilamente possível. Neste processo é importante prever (possíveis alterações no corpo, como manchas na pele, por exemplo) e organizar (a nova gestão do quotidiano) por via da informação, que pode ser obtida junto de um especialista.  

É uma época de grande cansaço e alterações hormonais. Assim, apesar de haver um novo elemento na família — aquele em quem as atenções, naturalmente, se centram mais — é também essencial que, quem está de fora, aposte em cuidados redobrados em relação à mulher. Nisto, a família e os amigos próximos assumem um papel fundamental. Mas como? Raquel Robalo deixa alguns conselhos que podem fazer toda a diferença.

1. Ajudar nas tarefas do quotidiano

Os amigos e família podem “substituir a mãe em todas as tarefas possíveis, aquelas que, mesmo com a chegada do bebé, não deixaram de ter de ser cumpridas” Falamos de refeições, do cuidar da roupa, da casa, no geral. Falamos sobre compras e outro tipo de recados do quotidiano. “Fará toda a diferença”, garante Raquel Robalo. 

2. Dar tempo à mãe para estar só consigo

Numa altura em que a mulher tem pouco tempo para cuidar de si, ao mesmo tempo que lida com todas as alterações físicas e psicológicas inerentes ao nascimento de um bebé, os amigos próximos e família podem ajudá-la a criar tempo para ela. Entre refeições (caso amamente), este círculo mais próximo ajudará voluntariando-se para cuidar do bebé — dando espaço à mulher para dar um passeio, ir ao cabeleireiro, arranjar as mãos, passar tempo só consigo, a cuidar-se e a mimar-se, da forma que a fizer sentir melhor. 

3. Mimar a mãe

O afeto emocional é outra forma de capacitar a mãe. Seja na forma de afeto verbal, físico, ou de ofertas, também a mãe precisa de se sentir apoiada — seja com sais de banho, com um creme para o corpo ou com umas flores. Pode parecer um ato banal, mas a realidade é que em períodos de maior vulnerabilidade, estas ações são interiorizadas e têm um impacto emocional positivo. “Nestes momentos de vulnerabilidade, as pessoas lembram-se. A atenção que a pessoa teve para com ela permanece.”

4. Empoderar a mãe

A família nuclear e alargada — sobretudo os avós — têm um papel fundamental nesta fase da vida da mulher, pois são muitas vezes um grande pilar de apoio. Mas é fundamental que a postura adotada seja no sentido de empoderar a mulher. Todas as ações ou comentários que possam fazer a recente mãe duvidar das suas capacidades neste novo papel devem ser evitados, uma vez que, nesta fase, é essencial que ela seja capaz de confiar nos seus instintos. Comparações sobre experiências passadas e dificuldades não são benéficas para a mulher que está a descobrir-se como mãe e que está também a enfrentar alterações hormonais, capazes de intensificar alguns sentimentos — sem esquecer, a privação de sono.

5. Companheiro/a, a ponte na comunicação

O companheiro/a não é um mero espectador. O pós-parto também é dele/a, que nesta fase está igualmente vulnerável e cansado/a. No entanto, e porque biologicamente há eventos que só ocorrem no corpo da mulher, ele/a está apto para assumir o papel de ponte de comunicação entre a mãe, o bebé e o resto do mundo. “Pode ser a pessoa que gere as tarefas e as tais ajudas das pequenas nas coisas do dia-a-dia. Ele deve tomar rédeas e tomar as decisões. Isto vai poupar muito a mulher, fortalecendo a relação deste casal, capaz de funcionar em equipa.”

6. Estar atento de forma global à mãe e ao seu estado emocional e físico

Um aspeto fundamental nos cuidados no pós-parto passa também por conhecer os sintomas e diferenças entre o baby blues — uma condição normal e passageira na vida de uma mulher que acaba entrar no mundo da maternidade — e de uma depressão pós-parto, mais grave e incapacitante. 


A diferença entre baby blues e a depressão pós-parto

Baby blues e depressão pós-parto são dois fenómenos diferentes e é importante saber distingui-los pelas consequências distintas que apresentam. 

“O blues pós-parto é um evento muito frequente, tendo uma incidência de 50% a 85%”, explica a especialista. “Já a depressão pós-parto tem uma incidência a rondar os 10% a 15%, o que também é muito elevado.”

Segundo a especialista, o baby blues é um evento benigno, transitório e auto-limitado, que começa e acaba. “Ocorre tipicamente até aos dez dias do pós-parto, tendo como características um estado de marcada vulnerabilidade de humor, que tanto vai do choro fácil, irritabilidade e tristeza à alegria”, diz. “No fundo, gera uma resposta a estímulos que não causariam reações tão intensas.” É uma situação passageira, que não precisa de tratamento específico.

A depressão pós-parto deve ser um cenário a considerar quando “os sintomas de baby blues persistirem, principalmente se por mais de três meses após o nascimento do bebé”, diz Raquel Robalo, ressalvando que um dos sintomas a ter em atenção é a interferência na “capacidade da mãe em cuidar do recém-nascido e de si própria”. Outros dos sinais a ter em atenção são ainda a perda de interesse, os sentimentos negativos permanentes, sintomas de ansiedade, ataques de pânico ou até hipocondria. 

“Ao contrário do baby blues, que é benigno e não precisa de tratamento, na depressão pós-parto já podemos estar a falar da necessidade de avaliação numa consulta específica”, esclarece. 

A depressão pós-parto não tem necessariamente de estar ligada a uma gravidez ou experiência de parto mais traumática. “Pode surgir quando, aparentemente, tudo correu bem e tudo está a correr como devia. Por isso é que é importante estar com atenção”. 

Raquel Robalo finaliza lembrando que o Hospital Lusíadas Lisboa tem uma equipa que se dedica ao apoio às mães depois do parto: as enfermeiras especialistas em saúde materna fazem um telefonema de follow-up nos primeiros dias depois da alta hospitalar, estando nestes primeiros tempos de maternidade disponíveis para esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir.  “Se as mães necessitarem, podem solicitar uma visita domiciliar. Existe também o apoio à amamentação na área da saúde da mulher."

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Revisão Científica

Dra. Raquel Robalo

Dra. Raquel Robalo

Coordenador da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia

Hospital Lusíadas Lisboa
PT