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A importância da saúde mental dos adolescentes

Revisão Científica
Metade das doenças mentais surge aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é diagnosticado nem tratado, alerta a Organização Mundial da Saúde. É por isso importante que pais e professores estejam alerta e compreendam os primeiros sinais e sintomas – não tratar a doença mental na adolescência traz sérias consequências na vida adulta.

A adolescência (10-19 anos) e o início da vida adulta são marcos fundamentais na vida. Entre as importantes alterações desta fase incluem-se as mudanças de escola, o sair de casa e o início da vida académica ou da atividade laboral.

Enquanto para muitos são tempos felizes, para outros são momentos de grande stresse e apreensão, que se não forem reconhecidos e adequadamente geridos podem desencadear doença mental.

Existem outros fatores que contribuem para o aparecimento de doença porque desencadeiam pressão adicional sobre o adolescente. Aqui incluem-se a utilização cada vez mais abrangente de tecnologias de informação – com um manifesto aumento da conectividade às redes virtuais, durante o dia e noite (não obstante os benefícios que daqui advêm) – e a existência de conflitos, catástrofes naturais e epidemias em áreas de emergências humanitárias.

É fundamental promover o bem-estar psicológico, estar atento à saúde mental dos adolescentes e proteger os adolescentes de experiências adversas e fatores de risco que podem afetar o seu potencial de crescimento, com repercussões não só na adolescência como na vida adulta.

Metade das doenças mentais surge aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é detetado nem tratado, o que é motivo de preocupação, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS): a doença mental não tratada no adolescente tem sérias consequências na vida adulta, condicionando a saúde física e mental e limitando oportunidades de vida

Determinantes da saúde mental dos adolescentes

A adolescência é um período crucial para desenvolver e manter bons hábitos sociais e emocionais que promovem e protegem a saúde mental. São exemplos disso a prática regular de exercício físico, a adoção de medidas de higiene do sono, a adoção de estratégias para lidar e resolver problemas, de gestão de relações interpessoais e de controlo de emoções.

O suporte familiar, escolar e comunitário é também de particular importância e funciona como um fator protetor.

Fatores de risco

A saúde mental dos adolescentes é determinada por múltiplos fatores. Quanto maior a exposição a fatores de risco, maior o potencial de impacto na saúde mental. Os fatores de risco incluem:

  • Desejo de maior autonomia;
  • Pressão entre pares;
  • Questões relacionadas com a identidade sexual;
  • Amplo acesso e a forma de utilização da tecnologia - salienta-se que a influência dos media pode aumentar a discrepância entre a realidade do adolescente e as suas perceções e aspirações em relação ao futuro;
  • A violência (incluindo pais muito rígidos e bullying) - as crianças e os adolescentes são particularmente vulneráveis à violência sexual, que tem graves consequências na saúde mental;
  • As dificuldades socioeconómicas;
  • O estigma, a discriminação ou exclusão social;
  • A dificuldade no acesso a serviços qualificados.

Grupos de risco

Existem grupos vulneráveis que carecem de maior atenção, tais como:

  • Adolescentes com doenças crónicas;
  • Adolescentes com perturbações do espetro do autismo;
  • Adolescentes com deficiência mental ou outras doenças neurológicas;
  • Adolescentes grávidas e pais adolescentes;Adolescentes órfãos;
  • Adolescentes de minorias étnicas ou sexuais ou de outros grupos minoritários.

Os adolescentes com doença mental estão particularmente vulneráveis à exclusão social, discriminação, estigma, dificuldades educacionais, comportamentos de risco e violação dos direitos humanos.

Saúde mental dos adolescentes

Em todo o mundo, estima-se que 10-20% dos adolescentes têm doença mental, embora alguns destes não sejam corretamente diagnosticados nem tratados, assinala a Organização Mundial da Saúde.

Esta situação atribui-se a vários motivos, nomeadamente à falta de conhecimento ou consciência da doença mental entre os profissionais de saúde e ao estigma da doença que limita o pedido de ajuda por parte das pessoas que precisam.

Promoção e prevenção

A prevenção começa com a consciencialização da existência da doença e com a necessidade de estar alerta e compreender os primeiros sinais e sintomas da doença mental. Os pais e professores assumem um papel fundamental na formação de competências dos adolescentes para que consigam lidar com os desafios do dia a dia.

É essencial um investimento governamental multissetorial (Segurança Social, Saúde e Educação) em programas abrangentes, integrados, e baseados na evidência, que consciencializem, promovam e protejam a saúde mental dos adolescentes. As intervenções que visam promover a saúde mental dos adolescentes pretendem aumentar os fatores protetores e criar alternativas para diminuir os comportamentos de risco.

A promoção da saúde mental e bem-estar ajuda os adolescentes a aumentar a resiliência, para melhor lidarem com adversidades e situações de conflito e também traz benefícios para a economia e sociedade: com adultos saudáveis a contribuir para o desenvolvimento da atividade em termos laborais, familiares, comunitários e sociais.

Os programas de promoção e prevenção para adolescentes em risco de doença mental requerem uma abordagem multissetorial que envolve serviços de saúde e sociais, media, escolas e comunidade. Exemplos de atividades de promoção e prevenção incluem:

  • Intervenção psicológica individualizada, em grupo ou online;Intervenção focada na família com treino de competências ao cuidador;
  • Intervenção no estabelecimento de ensino: mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro, estável e positivo;
  • Formação em saúde mental e competências para a vida;
  • Formação dos funcionários na deteção e abordagem básica do risco de suicídio;
  • Programas de prevenção para adolescentes vulneráveis.
  • Intervenções comunitárias como programas de liderança entre pares;
  • Programas de prevenção a adolescentes vulneráveis;
  • Programas para prevenir e gerir os efeitos da violência sexual nos adolescentes;
  • Programas multissetoriais de prevenção do suicídio;
  • Intervenções para prevenir o abuso de álcool e de outras substâncias nocivas;
  • Educação sexual para prevenir o risco de comportamentos sexuais de risco;
  • Programas de prevenção de violência. 

Fonte:
Adaptado de Organização Mundial da Saúde (OMS), www.who.int

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Dra. Ana Peixinho

Dra. Ana Peixinho

Coordenador da Unidade de Neuropsicologia , Psicologia , Psiquiatria

Hospital Lusíadas Lisboa
Hospital Lusíadas Monsanto

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