O meu filho não quer comer: Soluções Práticas para os Pais
Quando é que este comportamento é apenas uma fase normal do crescimento? E quando pode indicar algo mais sério? Neste artigo, exploramos as causas comuns e partilhamos soluções práticas para ajudar os pais a lidar com esta situação.
O Leite Materno e a Diversificação Alimentar
Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno é o alimento mais completo para satisfazer as necessidades nutricionais do bebé. Porém, a partir do sexto mês, deixa de ser suficiente para fornecer todos os nutrientes essenciais ao crescimento, como energia, proteína, ferro, zinco e vitaminas A e D. É nesse momento que se inicia uma nova fase: a diversificação alimentar, uma etapa crucial para um desenvolvimento saudável.
Introduzir novos alimentos de forma gradual até aos 12 meses permite que o bebé se adapte aos sabores e texturas, preparando-o, aos poucos, para integrar a alimentação da família.
Durante a diversificação alimentar, a recusa de novos alimentos é uma reação natural da criança ao contacto com algo desconhecido. No entanto, isso não significa que a rejeição seja definitiva. É comum que alimentos inicialmente recusados venham a ser aceites com o tempo. Para que tal aconteça, é importante oferecer o mesmo alimento várias vezes, podendo ser necessárias entre 5 e 12 exposições até que o bebé o aceite.
Desaceleração do Crescimento e a Anorexia Fisiológica
O primeiro ano de vida é caracterizado por uma elevada velocidade de crescimento. A partir do segundo ano, esta velocidade diminui significativamente e mantém-se estável até à adolescência. Como consequência desta desaceleração fisiológica, natural e esperada, do crescimento, é muito comum as crianças apresentarem uma redução do apetite ou uma grande variabilidade na ingestão alimentar. Este fenómeno é conhecido como anorexia fisiológica do segundo ano de vida.
Neste contexto, a diminuição do apetite e o desinteresse pela comida são comportamentos esperados e considerados normais, desde que não estejam associados a sinais de doença ou a um atraso no crescimento. Ainda assim, a recusa alimentar é frequentemente vivida com grande ansiedade por pais e cuidadores que, muitas vezes, interpretam a situação como algo patológico.
Para além da desaceleração do crescimento, esta fase também é marcada por um período de descobertas para a criança: começar a andar, explorar o ambiente, comunicar, testar limites e afirmar a sua autonomia. Neste cenário, o interesse pela comida tende a ficar em segundo plano. Por isso, mais do que forçar ou insistir, o papel dos adultos deve ser o de reaproximar a criança dos alimentos com leveza, curiosidade e envolvimento, tornando a hora da refeição uma experiência positiva.
Algumas Estratégias que podem ajudar
Lidar com a rejeição dos alimentos por parte da criança e com a falta de apetite pode ser desafiante para os pais, sobretudo pelo receio que exista um défice nutricional que afete a saúde geral e o normal desenvolvimento. Apesar de ser uma fase normal, e de esta anorexia ser, como o nome indica, fisiológica, não deve ser desvalorizada.
Existem algumas estratégias que pais e cuidadores podem adotar para ajudar a garantir que a criança consome a quantidade necessária de alimentos e nutrientes:
- Oferecer menos snacks: Dar snacks em excesso ao longo do dia pode ser um erro comum. Quando as crianças consomem alimentos entre as refeições com frequência, é natural que cheguem à mesa sem fome, o que dificulta a aceitação de pratos mais nutritivos.
- Envolver a criança na preparação das refeições: Envolver os mais novos na preparação das refeições pode ser uma excelente forma de despertar a curiosidade e incentivar o consumo de alimentos. Participar na cozinha torna a hora da refeição mais divertida e promove uma relação positiva com a comida.
- Evitar conflitos de poder: Evite forçar a criança a comer. Quando a alimentação é imposta contra a sua vontade, as refeições podem tornar-se experiências negativas, reduzindo ainda mais o apetite.
- Dar à criança os mesmo alimentos que ao resto da família: As crianças aprendem a comer e a gostar de novos sabores através da observação e imitação dos adultos. Por isso, é importante que os mais novos partilhem da mesma comida que o resto da família, com as adaptações necessárias à sua idade.
- Tornar a refeição um momento de partilha em família: As refeições são momentos de conexão, fundamentais para que os mais pequenos se sintam incluídos e valorizados. Envolver a criança contribui para um clima descontraído e acolhedor, que estimula o apetite, reduz a pressão em torno da comida e fortalece os laços familiares.
- Servir os alimentos de forma mais “divertida” e apelativa: As crianças são naturalmente atraídas por cores, formas e criatividade. Transformar alimentos que normalmente rejeitam em algo visualmente apelativo, como cortar cenouras em forma de estrela ou criar desenhos no prato, desperta a curiosidade e reduz a resistência a novos sabores.
- Reduzir as distrações: A utilização de ecrãs ou brinquedos durante a refeição desvia o foco da comida, prejudicando a capacidade da criança de perceber os sinais de fome e saciedade. Criar um ambiente calmo e sem estímulos externos promove uma maior concentração na refeição e o desenvolvimento de uma relação positiva com a alimentação.
Manter a Calma: O Papel dos Pais e Cuidadores
Os momentos das refeições podem ser frustrantes para pais e cuidadores, mas a forma como lidam com a recusa alimentar tem um papel determinante no desenvolvimento dos comportamentos alimentares da criança, tanto no imediato como a longo prazo. Uma abordagem inadequada pode transformar uma fase transitória num padrão persistente, dando origem a quadros de seletividade alimentar mais difíceis de gerir.
Uma vez que esta fase pode tornar-se um desafio, por vezes pode ser necessário recorrer ao acompanhamento de um profissional especializado. Este poderá esclarecer dúvidas e fornecer estratégias práticas para ultrapassar as dificuldades encontradas.
Nas nossas Unidades, contamos com equipas multidisciplinares compostas por nutricionistas e pediatras, prontas para ajudar a viver esta fase de forma mais tranquila, positiva e saudável.
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