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Os 10 erros mais comuns dos atletas solitários

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Treinam sem aquecer, em jejum ou sem o calçado adequado. Quem pratica desporto sem acompanhamento comete numerosos erros. Os músculos e as articulações protestam.
Por Tiago Carrasco

 

Três das cirurgias que Paulo Amado, coordenador da Unidade de Medicina Desportiva do Hospital Lusíadas Porto, teve de realizar no inverno foram a praticantes ocasionais de snowboard – duas roturas de ligamento cruzado anterior e uma fratura de tornozelo. Deslizar pela encosta de uma montanha nevada sem qualquer preparação prévia pode terminar na sala de operações.

Mas não são apenas os praticantes de desportos radicais que estão expostos a erros e a lesões. Numa simples corrida ou no treino de ginásio, o incumprimento de certas regras e pormenores pode afastar o desportista dos resultados pretendidos e mesmo castigar os músculos e os ossos. “Todos os dias lido com más práticas desportivas, desde o excesso de treino à hidratação incorreta”, diz Filipe Amorim, personal trainer e fundador do Surf Builder. Eis os erros que os atletas por conta e risco cometem habitualmente ao praticar desporto.

1. Entrar a frio

Um músculo adormecido é uma presa fácil para a rotura. "É importante trabalhar as articulações, contrair e estirar os músculos antes de praticar qualquer modalidade desportiva", diz Paulo Amado.

"Apesar de muitos fisiologistas defenderem que picos de corrida, como vemos nos aquecimentos dos futebolistas, em nada acrescentam ao desempenho fisiológico do atleta." Filipe Amorim, personal trainer, defende aquecimentos que atuem diretamente nos músculos que vão ser ativados no treino: "É inútil correr antes de surfar porque ninguém corre dentro de água. Deve-se aquecer a zona lombar e peitoral, por exemplo, que são determinantes na modalidade."

2. Se cá nevasse...

Nos meses de inverno, milhares de portugueses sem experiência nem treino rumam à montanha para experimentarem o ski e o snowboard. Alguns regressam com lesões graves. "É preciso ter noção de que as modalidades desportivas têm de começar a ser praticadas de um modo crescente para fortalecer os músculos e criar defesas propriocetivas", explica Paulo Amado. "Lesões como a rotura do ligamento cruzado anterior do joelho e a fratura do tornozelo são habituais nos desportos de neve", alerta.

3. Nem água a mais nem a menos

"A água deve ser ingerida em pequenas porções intervaladas ao longo do treino", explica Filipe Amorim. Os que se esquecem de beber água correm o risco de desidratar, ao passo que ao bebê-la em grandes quantidades de uma só vez, os rins não conseguem remover o excesso de fluido do corpo e o sangue torna-se mais diluído do que devia, com baixas concentrações de sódio.

4. Alarme: excesso de carga

O overtraining, ou excesso de treino, é um dos comportamentos mais comuns nos desportistas dedicados. Ocorre quando a carga e/ou o tempo de uma sessão de treino excedem a capacidade de recuperação do atleta. "Assim deixa de progredir e começa mesmo a perder força e rendimento", diz Filipe Amorim.

Paulo Amado refere que o overtraining na corrida é uma perigosa causa de tendinites rotulianas e no tendão de Aquiles.

5. A força da técnica no desporto

Seja a levantar halteres ou a remar, o rigor do gesto técnico é fundamental não só para a performance como também para evitar lesões. Quem pratica desporto sem acompanhamento pode adotar movimentos e posturas prejudiciais. "Há atletas de remo que desenvolvem lombalgias pela repetição de gestos técnicos deficientes", diz Paulo Amado.

No ginásio, forçar o pescoço durante os abdominais, levantar pesos do chão sem fletir os joelhos e correr na passadeira com má postura são as falhas mais comuns.

6. Insistir até quebrar

"Ignorar a dor é como desligar o alarme quando uma casa está a ser roubada. Elimina-se o alarme mas a casa é roubada à mesma", exemplifica Paulo Amado. "Muitos desportistas insistem no exercício quando têm uma dor ténue, cuja causa por vezes nem é diagnosticável no raio x. Mas se há dor é porque existe um problema e não se deve insistir, pois pode provocar lesões crónicas", alerta Paulo Amado. Até porque, defende Filipe Amorim, há formas de continuar a prática de forma segura: “Se a dor se localizar no pé, nada impede o treino do troco, por exemplo”.

7. A moda do jejum

Há cada vez mais pessoas a fazer desporto sem comer. O seu argumento é que isso lhes permite queimar mais gordura. “Mas os hidratos de carbono são o combustível dos músculos durante o exercício. Se não forem repostos através da alimentação, o organismo não consegue queimar gordura e começa a usar massa muscular (proteína) para ter energia. Isso é contraproducente”, sublinha Filipe Amorim. Quando a intensidade de treino é baixa, o jejum é sustentável. “Mas com uma carga elevada pode conduzir à hipoglicemia ou a situações mais graves.”

8. Correr para chegar rapidamente ao almoço

Acabar o treino e comer uma francesinha é como fazer um castelo de areia e destrui-lo com um pontapé. “A nutrição e o exercício físico são indissociáveis”, explica Paulo Amado. “O desporto sozinho não faz com que ninguém emagreça, tem de ser acompanhado por boas práticas alimentares. Longe vão os tempos em que os futebolistas comiam um bife e bebiam vinho para ter energia.”

9. Mitos: o agasalho e a balança

Muitas pessoas chegam aos ginásios impregnadas de equívocos. “Ainda há quem treine com duas camisolas porque pensa que perde mais peso assim. É falso. Vai perder água, não calorias”, explica Amorim. Outro erro habitual é o de controlar o peso todos os dias: “O resultado dos treinos não se manifesta diariamente e o uso abusivo da balança só conduz à desmotivação”, defende o personal trainer.

10. Atenção aos pés

A escolha adequada de sapatilhas é fundamental para a prática de qualquer desporto. No atletismo, ainda mais: um calçado desajustado à corrida ou desgastado pode provocar tendinoses e fraturas de stresse. “Tratei de um atleta olímpico que tinha fraturas de stresse frequentes. Ele tinha ganho uma maratona com as sapatilhas velhas e usava-as sempre para lhe dar sorte. Chegámos à conclusão que o desgaste do material do calçado era uma das causas do problema”.  

Pode ler este artigo na edição número 7 da Revista Lusíadas, aqui

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Revisão Científica

Prof. Dr. Paulo Amado

Prof. Dr. Paulo Amado

Coordenador da Unidade de Ortopedia e Traumatologia

Hospital Lusíadas Porto
Hospital Lusíadas Santa Maria da Feira
Hospital Lusíadas Vilamoura
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